Mercado prevê longo ciclo de juro alto

Leia em 4min 30s

Economistas apostam que o Banco Central iniciará esta semana uma série de altas na taxa Selic até chegar a 12,2% ao ano em dezembro

 

O novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, enfrenta logo no início do mandato o duro desafio de trazer a inflação oficial do País de volta para a meta de 4,5% ao ano. Em 2010, o IPCA subiu 5,91%. O primeiro passo nessa direção deverá ser dado nesta semana, quando ele comandará sua primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

 

No encontro, que começa terça e termina quarta-feira, Tombini e seis diretores do BC vão definir o novo nível da taxa básica de juros (Selic). Há um consenso no mercado de que a taxa será reajustada. A aposta é de elevação de 0,50 ponto porcentual, para 11,25% ao ano.

 

O próprio BC, em seu mais recente Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro, não poderia ter sido mais explícito. "No regime de metas para a inflação, desvios em relação à meta, na magnitude dos implícitos nessas projeções (do mercado e do próprio BC), sugerem necessidade de implementação, no curto prazo, de ajuste na taxa básica de juros", diz parte do texto que abre o documento.

 

A provável alta fará o Brasil ficar ainda mais atrativo para os investidores internacionais, porque aumentará a já enorme diferença entre os juros aqui dentro e no exterior. A Selic é a mais alta taxa básica do mundo, tanto em termos reais (cálculo que desconta a inflação) quanto nominais. Nos países desenvolvidos, os juros estão próximos de zero.

 

Os analistas não têm certeza apenas sobre a elevação da Selic agora. Cravam que o BC vai continuar puxando o juro durante boa parte de 2011. A maioria avalia que a taxa irá até 12,25% ao ano e ficará nesse nível até dezembro.

 

Mas há apostas para todo os gostos. Os analistas do banco Credit Suisse, por exemplo, acreditam em um ciclo total mais longo e maior, que culminaria com a Selic em 13,50% no fim do ano. Na outra ponta, o Banco Fator vê espaço para uma queda da taxa já no segundo semestre, encerrando 2011 em 11,25% (apenas 0,50 ponto acima do nível atual).

 

Pressões. A inflação no Brasil está pressionada e deve continuar assim, na melhor das hipóteses, até o fim do primeiro trimestre. Há uma série de fatores que embasa essa avaliação: a alta das commodities e dos produtos in natura (verduras, legumes e frutas), a persistente inflação no segmento de serviços e o provável fim da valorização do real.

 

Para alguns analistas, a situação é tão preocupante que eles não descartam a hipótese de o IPCA de 2011 estourar o teto da meta (6,5%). "A inflação alta na partida do ano (os 5,91% acumulados em 2010) faz com que um eventual choque na economia a leve para cima da banda superior da meta", diz o economista-chefe da JGP Gestão de Recursos, Fernando Rocha.

 

A má notícia para o País é que os riscos desses choques crescem a cada dia neste começo de 2011. As chuvas no Sudeste têm levado a fortes altas dos preços dos produtos in natura. Na semana passada, a medição semanal do IPC-Fipe mostrou que a alface subiu 25% em um mês.

 

No exterior, as commodities alimentícias (como soja e milho) mantêm-se pressionadas, a exemplo do que ocorreu em grande parte de 2010. O Índice CRB Food, que sintetiza em um único indicador a evolução dos preços agrícolas, avançou quase 15% nos últimos 45 dias.

 

Além disso, a economia brasileira ainda é muito indexada. Como em 2010 indicadores que corrigem vários preços avançaram fortemente (caso do IGP-M, que subiu 11,32% e serve de base para o reajuste do aluguel), é de esperar que tenham impacto sobre o IPCA de 2011.

 

Esses fatores conjunturais juntam-se a pelo menos outros dois estruturais. Como lembra o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o câmbio deixará de ter no governo Dilma a contribuição positiva para a inflação que beneficiou Lula em seus dois mandatos. Vale lembrar que o dólar saiu da faixa de R$ 3,50 no início de 2003 para a casa de R$ 1,70 em dezembro de 2010. "Hoje, praticamente não há espaço para nova valorização expressiva do real", comenta Gonçalves. Sexta-feira, a moeda fechou a R$ 1,686.

 

O outro fator estrutural é a inflação dos serviços. Esse é um segmento da economia que retrata o comportamento da demanda. Afinal, não é possível importar cabeleireiro, manicure, tintureiro, marceneiro etc. A competição entre esses profissionais é somente interna.

 

PERGUNTAS & RESPOSTAS

 

1.Por que o juro vai subir?

A variação dos preços indica que a inflação oficial deve superar a meta fixada para o ano de 2011, que é de 4,5%. Em 2010 a inflação ficou em 5,91%.

2.Por que a inflação está acima da meta?

Por causa da alta das commodities (principalmente alimentos), da expansão dos gastos públicos e do forte crescimento da demanda.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Tensão comercial entre Brasil e EUA cresce na OMC

Os Estados Unidos e o Brasil protagonizaram ontem um duro confronto sobre barreiras à importação e ...

Veja mais
Ribeirão registra deflação de -0,12% em dezembro, diz Acirp

Queda acentuada no preço dos alimentos favoreceu o índice   Após registrar em novembro passa...

Veja mais
Efeitos dos preços dos alimentos

Há um novo recorde à vista para as exportações brasileiras do agronegócio. O valor po...

Veja mais
Vendas do varejo crescem acima do PIB e ampliam distância da produção

A expansão do comércio varejista foi muito superior a do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2010. E...

Veja mais
Vendas no varejo bateram recorde, garantem analistas

A continuidade do aquecimento do mercado interno impulsionou as vendas do comércio varejista nacional, que subira...

Veja mais
Preço de alimentos sobe com anúncio de safra menor nos EUA

Os preços do milho e da soja subiram para o mais elevado valor em 30 meses ontem após o governo dos EUA re...

Veja mais
Preços no varejo aumentam em janeiro

Os consumidores estão encontrando os produtos mais caros neste começo de ano. Segundo dois indicadores de ...

Veja mais
Porto Alegre está entre as cidades com menores altas no preço da cesta básica

O custo da cesta básica aumentou em todas as 17 capitais pesquisadas pelo Dieese em 2010. Em 14 delas, os aumento...

Veja mais
Pressão das importações provoca déficit comercial

Resultado negativo do Brasil nos primeiros cinco dias úteis do mês chegou a US$ 486 milhões, de acor...

Veja mais