As vendas do comércio varejista prosseguiram em expansão em agosto, mas o aumento de juros ao consumidor desacelerou o crescimento de vários segmentos do setor. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem um aumento de 9,8% nas vendas em agosto ante igual mês do ano passado, puxado especialmente pela atividade de hiper e supermercados, beneficiada pela deflação dos alimentos. Ante julho, o crescimento foi de 1,1%.
O técnico da Coordenação de Serviços e Comércio do instituto, Nilo Lopes, disse que em agosto houve uma cautela maior das empresas em conceder financiamento aos consumidores. "Acredito que os agentes econômicos já vinham se preparando para a crise, houve uma antecipação de expectativas, era uma crise anunciada. Assim, houve uma certa precaução que se refletiu no aumento dos juros para pessoa física e em maior seletividade para concessão de crédito", disse.
Em agosto, segundo Lopes, o aumento dos juros no varejo afetou as vendas. Mesmo mantendo o patamar de expansão das vendas em nível elevado, o setor mostrou desaceleração dos resultados na maior parte das atividades pesquisadas.
Ele disse que "não dá dúvida" de que a crise mundial vai rebater negativamente nos dados de setembro, sobretudo nos segmentos vinculados ao crédito, como automóveis, ou que vinham sendo beneficiados pelo dólar baixo, como eletrodomésticos e artigos de informática.
Das dez atividades pesquisadas pelo IBGE em agosto, oito tiveram perda de ritmo ante igual mês do ano passado. As vendas de móveis e eletrodomésticos, estreitamente vinculadas ao crédito, aumentaram menos em agosto ante igual mês do ano passado: 13,1%; em julho, na mesma base de comparação, a alta havia sido de 19,7%.
Outro exemplo são as vendas de automóveis, que passaram de uma alta, ante igual mês do ano passado, de 24,8% em julho para 2,9% em agosto. Segundo Lopes, além do aperto no crédito, esses segmentos foram afetados por uma "acomodação" em resultados muito fortes apurados em meses anteriores.
Segundo dados do Banco Central citados por Lopes, a taxa de juros anual para aquisição de bens, exceto veículos, passou de 56,69% em junho para 57,89% em julho e 59,15% em agosto. No caso de veículos, subiu de 31,09% em junho para 33,34% em agosto.
O diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Emerson Kapaz, também avalia que os dados de agosto revelam sinais de desaceleração em alguns segmentos, como móveis e eletrodomésticos. Para ele, a crise terá impacto no setor a partir dos dados de setembro e "devem ser mais afetados os setores dependentes do crédito", como eletrodomésticos, automóveis e material de construção.
Para Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria, o varejo ficou longe da crise em agosto e mostrou resultados "muito positivos", impulsionados pelo aumento da massa salarial e a oferta de crédito. "Vale ressaltar que, em agosto, os efeitos da crise internacional sobre o canal de crédito ainda não estavam presentes."
A perda de ritmo em alguns segmentos só não afetou mais os resultados do varejo porque as vendas de hiper e supermercados, atividade que responde por cerca de 40% da pesquisa do IBGE, aceleraram, beneficiadas pela deflação dos alimentos, e garantiram bons resultados no mês.
Do crescimento de 9,8% nas vendas do varejo em agosto ante igual mês do ano anterior, 3,8 pontos, ou 38,5% do total, vieram desse segmento, cujas vendas aumentaram 7,8% em relação a igual mês de 2007. Na mesma base de comparação, o crescimento foi de 1,5% em junho e de 5,4% em agosto.
Veículo: O Estado de S.Paulo