Comércio se ajusta à crise e mantém expansão, diz IBGE

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A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) relativa ao comportamento do varejo em agosto, divulgada ontem no Rio de Janeiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstra a inversão de alguns sinais nas vendas do varejo em 27 unidades da federação do País. De um lado, alimentado pelos bons indicadores de emprego e renda, o volume de vendas da categoria que engloba hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceu 1,1% sobre os resultados obtidos em julho, quando a taxa foi zero.

 

O resultado de agosto ganha maior relevância, tendo-se em conta que o comércio registrou quatro meses consecutivos de variações abaixo de 1% nos períodos anteriores a agosto.

 

Simultaneamente, no entanto, o índice do comércio varejista ampliado, mais sensível ao crédito, registrou queda no volume compras em vários segmentos. A categoria de veículos e motos, partes e peças, por exemplo, encolheu 3,7% no mês; já a de material de construção recuou 1,6%. No cômputo geral, como a categoria de hipermercados é decisiva na formação do índice, o resultado do mês é positivo.

 

Segundo o IBGE, o comércio como um todo aumentou em 1,1% o seu volume de vendas no mês de agosto e registrou uma expansão de receita nominal de 1,2% sobre julho.

 

"Na prática, os agentes econômicos já estavam se preparando para a crise desde agosto", comentou Nilo Lopes de Macedo, analista do IBGE para a Pesquisa Mensal do Comércio. "Os dados de agosto já refletiram o início da escalada das taxas de juros em cheques especiais, empréstimos pessoais, cartão de crédito e financiamento de veículos, com impacto direto em categorias como automóveis e construção civil", acrescentou. Dados do Banco Central apontam essa súbita elevação. As taxas anuais para cheque especial para pessoa física saíram de 149,84% em março, passaram a 162,65% em julho, e alcançaram 166,39% em agosto. Da mesma forma, as taxas anuais do crédito pessoal que em maio eram de 48,39%, em julho estavam em 52,59% e, em agosto, bateram nos 54,49%.

 

"Os agentes econômicos já estavam mais cautelosos desde agosto, dando maior seletividade à concessão de empréstimos para as pessoas que têm menor poder aquisitivo, principalmente no caso das transações de médio e de longo prazos", explicou o analista.

 

Nas atividades em que o crédito ocupa um papel central, a desaceleração registrada fica mais evidente se for levada em conta a variação de agosto de 2008 contra agosto de 2007. O varejo do setor automobilístico, por exemplo, indicava em julho de 2008 contra julho de 2007 uma expansão de 24,8%; contudo, comparando agosto deste ano contra agosto do ano passado, o crescimento despencou para modestos 2,9%. A variação indica uma brusca acomodação do mercado, que por 19 meses consecutivos (na série mês de 2008 versus mês de 2007) apresentava taxas de crescimento de dois dígitos. Já, no caso do material para construção, a expansão em julho de 2008 contra julho 2007 estava em 19,3%. Ela recuou em agosto deste ano versus igual período do ano passado, para 2,4%.

 

O quadro é diferente nas categorias menos suscetíveis ao crédito. Nesses casos, o varejo demonstrou fôlego para crescer. "As vendas em hipermercados são mais atreladas às questões de renda e emprego. Como o mês registrou deflação em alguns segmentos de alimentos ou queda no ritmo de inflação, a população voltou a consumir o mesmo volume de alimentos registrado antes do repique inflacionário de meados do ano", comentou Macedo. Para ele, se a renda e emprego continuarem em sua trajetória positiva, este segmento não deverá ser atingido pela crise financeira internacional.

 

O analista ressaltou o papel do câmbio em algumas categorias do varejo. O caso mais emblemático é a categoria de equipamentos e material para escritório, informática e comunica-ção cujos produtos, em boa parte, são importados ou têm insumos importados. O setor registrava, antes de agosto, cinco meses consecutivos de crescimento. "A relação entre o real e o dólar é um elemento chave de crescimento das suas vendas", explicou o pesquisador.

 

Em agosto, com um dólar barato, o estímulo ao crédito e a tendência à informatização das famílias brasileiras - já apontada em outras pesquisas do IBGE - o segmento registrou um volume de vendas 3,2% superior ao de julho. E, comparando o período com agosto de 2007, a variação registrada chegou a 33,7%. "Da mesma forma, se o dólar ficar mais caro, esses setores dependentes da importação de matéria prima ou de produtos acabados certamente registrarão um consumo menor", previu o pesquisador.

 

Macedo, no entanto, recusou-se a antecipar quaisquer tendências na evolução das vendas no varejo nos próximos meses. "Com as bruscas oscilações na Bolsa e no câmbio nos últimos dois meses fica difícil prever qualquer coisa", admitiu.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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