Apesar de as varejistas não estarem desesperadas com a falta de crédito para o Natal, principalmente as grandes redes, por terem volume de produtos em estoque, as empresas continuam preocupadas com a alta dos juros para o consumidor, tanto que este fator começou a dar sinais antes da deflagração da crise no sistema norte-americano. O aumento dos juros afetou as vendas naquele mês, refletindo maior cautela das empresas para conceder financiamentos. Segundo os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o varejo cresceu 1,1% em relação a julho e 9,8% com relação a agosto de 2007. No consolidado do ano, a evolução do setor chega a 10,6%, nível superior ao crescimento de 9,7% verificado ao longo de 2007.
Na avaliação de Nilo Lopes, técnico da coordenação de comércio e serviços do IBGE, "ainda que tenha mantido o patamar de expansão das vendas em nível elevado em agosto, o varejo teve desaceleração na maior parte das atividades pesquisadas". Ele crê que os agentes econômicos já se preparavam para a crise, ocasionando antecipação de expectativas. "Houve uma certa precaução que se refletiu no aumento dos juros para a pessoa física e em maior seletividade para a concessão de crédito", observou o Nilo Lopes.
Do conjunto de dez atividades pesquisadas pelo instituto, sete desaceleraram em agosto frente ao mês anterior e oito perderam ritmo em relação a igual mês de 2007, já que o arrocho na concessão de crédito para as atividades de material de construção, eletrodomésticos e automóveis sofrem impactos imediatos. A conseqüência foi que as vendas de móveis e eletrodomésticos aumentaram 1% em agosto ante mês anterior e 13,1% ante igual mês do ano passado. Em julho, os resultados haviam sido, respectivamente, de 1,3% e 19,7%.
O diretor executivo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Emerson Kapaz, disse que esses resultados colocam em evidência que, na média, o setor varejista vem conservando um dinamismo bastante positivo no decorrer deste ano. "Isso significa dizer que na situação 'pré-crise internacional', o setor caminhava para um crescimento ao menos igual à expressiva evolução de 2007. Contudo, essas considerações não devem omitir algumas mudanças que os dados já permitem observar", acrescentou.
Desaceleração
No caso dos materiais de construção, que caminhava a passos acelerados nos últimos meses, registrou variação frente a julho, de 1,1% em agosto para -1,6% em setembro e, ante igual mês do ano passado, de 19,3% para 2,4%.
Já na categoria de veículos e motos, a alta foi de 2,9%, considerado pequeno para já que a categoria acumula variação de 19,8%. Dados levantados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o mês de setembro já recuperou ao menos em parte o dinamismo anterior de vendas.
Em outras categorias também ocorreu uma desaceleração, embora em menor m relação aos demais. Para Kapaz, tecidos, vestuário e calçados é o caso mais relevante. "A evolução no mês foi de 4,3% comparado a agosto de 2007, enquanto nos dois meses anteriores a alta foi, respectivamente, de 10,3% e 8,4%".
Alimentos
As vendas de hiper e supermercados reagiram em agosto e garantiram bons resultados para o comércio varejista no mês. Do crescimento total de 9,8% nas vendas do varejo em agosto ante igual mês do ano anterior, 3,8 ponto, ou 38,5% do total, vieram do grupo de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que responde por cerca de 40% da pesquisa e cujas vendas aumentaram 7,8% em agosto ante igual mês de 2007.
O resultado para essa atividade representa uma aceleração em relação aos dados, comparativamente frente ao mesmo mês do ano anterior, apurados em junho (1,5%) e agosto (5,4%). O técnico do IBGE, Nilo Lopes avalia que essa atividade vinha sendo bastante afetada pelos aumentos nos preços dos alimentos e voltou a reagir com a deflação dos produtos alimentícios em agosto. Além disso, segundo ele, esse segmento é menos sensível ao crédito do que as demais atividades do varejo.
Cenário
Diante do atual cenário econômico mundial, as projeções de crescimento do varejo para este ano, serão inferiores à aguardada antes da crise internacional. Emerson Kapaz, do IDV, crê que o setor não conquistará o crescimento de 8,5% previsto para este ano, devido ao cenário incerto para este último trimestre. "Mas se o impacto for pouco e não ocorrer grandes modificações poderá até faltar produtos para as festas de final de ano", pontuou o especialista. Ano passado, a alta do vista no varejo foi de 9,6%.
Para este Natal, Fabio Pina, assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), estima que haja um crescimento de até 4% nas vendas em comparação ao ano passado. Ele ressalta que "mesmo com um cenário adverso, as grandes varejistas [como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart] têm melhores condições de financiamento. Já as menores, serão mais agressivas para não perder mais mercado para as concorrentes. As empresas têm estratégias de mercado que prevalecem à crise", analisou Pina.
Um pouco mais otimista para o fim de ano, o IDV espera os ganhos um pouco inferiores a 10% frente ao desempenho do ano passado. Kapaz afirma que devido à oscilação do dólar "há lojistas com estoques já confortavelmente abastecidos para este Natal", finaliza.
Alta nas vendas de 1,1% em agosto deste ano ante o mês passado foi resultado da cautela do varejo quanto à oferta de crédito para o consumidor, antevendo uma crise mundial.
Veículo: DCI