Combate à prática irregular externa é saída para indústria

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A substituição da produção doméstica por importações e a saída do mercado interno para a abertura de filiais no exterior e posterior venda ao Brasil mostram que hoje o País sofre uma desindustrialização. A afirmação é do diretor do departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti, que frisa a necessidade de processos antidumping e salvaguarda.

 

"A desindustrialização do País não esta atrelada a produção e a demanda internas, não é necessário o setor industrial perder participação no Produto Interno Bruto [PIB] para vincularmos a uma desindustrialização", diz.

 

De acordo com ele, o índice da entidade que aponta os coeficientes de exportação e importação (CEI) da indústria mostra que a competitividade do País caiu em 2010. "Precisamos de reforma tributária, investimentos em infraestrutura e logística, inovação tecnológica e câmbio entre R$ 2,00 e R$ 2,20 para conseguirmos competir internacionalmente. Caso contrário nossa produção será vendida internamente e perderemos espaço no comércio exterior", disse Giannetti. "O câmbio não teve melhoras. Com o mecanismo de swap cambial podemos reduzir a entrada dos especuladores pela diferença das taxas de juros. Contudo, o câmbio não voltará a R$ 2,50 ou R$ 3,00 pelas consequências internas do câmbio atrelado a inflação. Em junho devemos ter o dólar a R$ 1,80 e em dezembro, a R$ 2,00".

 

Os números do CEI mostram que as exportações de manufaturados cresceram 18% entre 2009 e o ano passado, enquanto as importações tiveram alta de 45%. "Essa entrada de produtos está atrelada ao crescimento de 12% do consumo interno. O crescimento das vendas é significativo, porém em 2009 tivemos uma queda de 25% nas exportações do setor, ou seja, não conseguimos recuperar totalmente a perda anterior e zerarmos o placar. Possivelmente não conseguiremos bater em 2011 esse valor deficitário, visto que devemos ter um crescimento entre 0% e 5% das exportações este ano", disse. "A cada 1% de crescimento do PIB teremos 3% de alta nas importações. Em 2011 teremos superávit de US$ 10 bilhões e em 2012 poderemos ter um déficit", acrescentou.

 

Na comparação anual (2009/2010), o coeficiente de exportação (CE) teve alta de 0,9 ponto percentual ao passar de 18% para 18,9%, enquanto o coeficiente de importações (CI) passou de 18,3% para 21,8%.

 

Giannetti alertou para a balança comercial de manufaturados, que registrou déficit de US$ 71 bilhões em 2010, com exportações de US$ 79,6 bilhões e importações de US$ 150,7 bilhões. "Na análise mais profunda estamos estagnados desde 2006, quando tivemos exportações de US$ 75 bilhões. Enquanto as importações, no mesmo período, cresceram mais de US$ 80 bilhões", frisou.

 

Classificados por setores, a indústria extrativa, que engloba minério de ferro, teve uma alta no CE de 0,9 ponto. no ano passado frente a 2009, porém na relação 2010/2008 houve queda de 0,7 ponto. "A forte demanda chinesa para minério deve continuar a crescer e o preço segue a mesma tendência, ou seja, iremos superar os valores pré-crise", diz.

 

Em contrapartida, o CI do setor siderúrgico registro alta de 16,9% em 2010, um crescimento de 7,6 ponto ante a 2009. "Muitos investimentos estão sendo revistos e suspensos. Não vale mais a pena produzir aqui. A capacidade instalada mundial cresceu muito. Sem medidas como antidumping e salvaguardas para proteger o setor das ameaças e concorrências desleais, não precisamos tentar elevar a competitividade."

 

O diretor completa: "O governo deveria expandir o dumping para os produtos têxteis como fez com os calçados. Vemos no CI que as importações de calçados registraram queda em 2010 [de 5,6% para 5,2%], quando a medida foi imposta, enquanto os têxteis ampliaram para 19,6%".

 

"Hoje, a cada cinco peças de roupas vendida uma é importada. O caso só não é pior do que o do setor de máquinas e equipamentos: a cada duas máquinas adquiridas, uma é importada."

 

ICMS

 

Uma das causas para a desindustrialização do País é a saída de empresas do mercado nacional. "As empresas estão saindo do Brasil por diversas razões, dentre elas a cobrança total de ICMS para produtos fabricados internamente e da cobrança parcial dos produtos importados. Então, vale mais a pena produzir fora, com as vantagens tributárias e vender para o mercado brasileiro, do que produzir aqui e vender para fora", diz.

 

Outro fato apontado é que as indústrias estão comprando peças da produção e montando em suas fábricas e não mais produzindo.

 


Veículo: DCI


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