Delfim Netto avalia medida do IOF como uma legítima defesa

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O professor e ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, disse ontem que a ampliação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para bancos e empresas que peguem empréstimos no exterior de um ano para dois anos foi tomada, na última quarta-feira, pelo governo como um ato de "legítima defesa". "O Guido [Mantega, ministro da Fazenda] sabe que tem pouco efeito. Esse tipo de decisão tem pouca importância. Mas o governo tomou por legítima defesa, como todos os governos do mundo estão fazendo", explicou.

 

Um dos objetivos do governo é conter a entrada de dólares que está pressionando a valorização do real frente à moeda americana - o que encarece as exportações e barateia as importações, de modo a desequilibrar a balança comercial brasileira. Mas para o economista-chefe do banco Bradesco, Octávio de Barros, a taxa de câmbio deve se manter no patamar atual por volta de R$ 1,60 por dólar.

 

"Eventualmente, a depender de novas medidas que possam ser implementadas, pode ter até a quebra dessa barreira de R$ 1,60", ressalta. "O câmbio no Brasil só vai se depreciar quando a taxa das economias maduras caminharem na direção de uma taxa mais neutra de juros. Mas não consigo enxergar em um horizonte de dois a três anos que a taxa de juros nos Estados Unidos ou na Europa volte à taxa média histórica. Por isso, a moeda brasileira vai continuar valorizada, até porque o Brasil segue sendo um país onde os investidores têm uma leitura muito generosa daqui. È muito difícil controlar essa maré", analisa.

 

Os especialistas fizeram as afirmações ontem após participarem de debate sobre os "100 dias de governo Dilma", promovido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio).

 

Governo Dilma

 

O ex-ministro Delfim Netto tem se mostrado bastante otimista com relação ao início do governo de Dilma Rousseff, além de defender com ênfase o mandato da então presidente da República, que neste domingo comemora 100 dias de gestão. "Este governo está caminhado para uma situação muito melhor do que no passado em todos os quesitos, não só econômicos. É uma evolução." Para ele, este governo merece a nota 4,9, numa escala de 0 a 5.

 

"Se tivesse uma escala de 0 a 10, daria 9,9", disse, ao responder brincadeira feita entre os debatedores durante o evento e que também envolveu todos os convidados. Ele também deu como praticamente certa a reeleição de Dilma, ao afirmar que ela tem mais de 2.600 dias pela frente e não só 1.300 deste primeiro mandato.

 

Por outro lado, o professor evitou comentar sobre as questões que ainda precisam ser resolvidas pelo atual governo. E se limitou a dizer que apontar os problemas "é matéria de doutorando".

 

De fato, todos os debatedores também concordam de que os 100 primeiros dias de Dilma foram positivos. "Ninguém tem dúvida de que foi um bom inicio de governo. Essa gestão é mais técnica. Parece que há mais interesse em estabelecer a chamada agenda de destravamento, que envolve resoluções para a burocracia, para a carga tributário, para o Judiciário, que ainda estão aquém da excelência de atuação do setor privado", analisa o economista chefe do Bradesco.

 

Apesar de também elogiar os 100 primeiros dias de mandato de Dilma, o presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomércio e economista da RC Consultores, Paulo Rabello de Castro, afirmou no evento que o corte de R$ 50 bilhões proposto no Orçamento da União para este ano é "insuficiente" para controlar a inflação e posicionar positivamente este novo governo. "Se retirarmos o aporte feito na capitalização da Petrobras para o pré-sal, temos um aumento real de 5% nos gastos públicos", disse. "É preciso mudar o pacto pró-gastança. O governo está estimulando o consumo e não o investimento. Precisamos fazer um ajuste fiscal", complementou o diretor da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Yoshiaki Nakano.

 

Já Octávio de Barros acredita que o ajuste fiscal público de R$ 50 bilhões orçado para este ano "vai surpreender positivamente". "Ainda há muita gente cética. Mas os primeiros meses até março revelam que houve um esforço fiscal razoável, até acima do que alguns analistas imaginavam."

 

Para o diretor da FGV, os 100 primeiros dias do governo brasileiro foram positivamente surpreendentes, pela condução técnica e pelas negociações no campo político. No entanto, ele comentou que "o governo ainda não mostrou a que veio nas grandes questões". Rabello de Castro também criticou a política de juros do País, que permite a grande entrada de capital especulativo. Nakano afirmou ainda que para o País crescer em média 5% ao ano, precisa ampliar a taxa de investimento dos atuais 18% do PIB para algo acima de 23% do PIB.

 

Veículo: DCI


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