Mantega anuncia que IOF de empréstimos passará de 1,5% para 3% sobre o valor do financiamento a partir de hoje
Medida atinge todos os empréstimos, exceto os imobiliários; o objetivo, segundo o ministro, é conter a alta de preços
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que vai dobrar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na concessão de crédito para pessoas físicas com prazo igual ou superior a um ano. O objetivo da medida, segundo o governo, é conter a inflação.
Hoje, o consumidor paga 1,5% sobre o valor do financiamento e, com a mudança, vai pagar 3%. De acordo com o ministro Guido Mantega, o total de empréstimos pessoais no Brasil está em torno de R$ 700 bilhões ao ano.
A medida começa a vigorar hoje e atinge todas as operações de crédito pessoal. Entre elas, compras feitas no crediário, empréstimos pessoais, crédito consignado (com desconto direto no salário), rotativo do cartão de crédito e parcelamento para compra de automóveis.
Na avaliação da Fazenda, a inflação está ligada ao aumento dos preços de matérias-primas no exterior.
Contribuem também, na avaliação do governo, aumentos de preços de alimentos, afetados pelo prolongamento do período de chuvas.
"O que nós não queremos é que haja um contágio dessa inflação localizada e que não é originária no Brasil para setores que estão aquecidos", afirmou Mantega.
A forma encontrada pelo governo foi segurar o consumo. O aumento do custo do crédito será aplicado apenas a novos financiamentos.
"Nós estamos tomando essa medida para moderar o aumento do crédito para o consumo que, neste início de ano está crescendo cerca de 20%, o que é uma velocidade um pouco elevada", admitiu.
TEMPORÁRIO
Segundo Mantega, a medida é temporária e valerá até que a demanda e o volume de recursos emprestados voltem ao patamar compatível com a expansão econômica.
Para Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, a medida deve ter o efeito desejado pelo Banco Central: controlar o crédito, desacelerar o crescimento e reduzir o consumo.
Por outro lado, ele não acha que o imposto maior vai conter as expectativas de inflação -o que costuma ocorrer quando o governo eleva a Selic (taxa básica de juros).
"A medida não deve convencer a sociedade de que a inflação ficará baixa e isso pode alimentar mais a alta dos preços", afirmou.
O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas considera a medida coerente e acha que ela vai conter o consumo.
Para Freitas, o BC tem evitado subir a Selic, para não aumentar ainda mais a entrada de dólares para investimentos em títulos públicos, o que valorizaria mais o real.
Em 2008, para conter a inflação, o IOF também foi elevado para 3%. A alíquota foi mantida por um ano
Veículo: Folha de S. Paulo