Itaú se une à financeira Carrefour

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O Bradesco esteve praticamente com o negócio nas mãos, mas não levou. Na disputa com o Itaú Unibanco por fatia da Carrefour Serviços Financeiros (CSF), foi a instituição comandada por Roberto Setubal que venceu a jogada no tabuleiro do disputado mercado de crédito ao consumo. Pagou R$ 725 milhões por uma participação de 49% do braço de financiamento ao varejo da rede francesa. O Bradesco, segundo o Valor apurou, teria apresentado uma proposta de valor 30% superior, mas queria mais do que uma parcela minoritária do capital. Desejava o controle e tomar o timão das operações, tal qual na aquisição do Banco Ibi, que pertencia à varejista C&A.



Procurado, o Bradesco não quis se pronunciar. A evolução das negociações nos bastidores remete à mesma dinâmica que se viu até o desfecho do negócio do Itaú Unibanco com a Porto Seguro. O Itaú topou ficar com 43% da operação da seguradora, ao unificar as carteiras de seguros residenciais e de automóveis, em agosto de 2009, numa transação avaliada em cerca de R$ 1,7 bilhão. Na época, o Bradesco também estava próximo de fechar o negócio, mas foi justamente o fato de a administração da Porto não abrir mão do controle que levou ao desfecho favorável ao Itaú, que entrou no processo atropelando na reta final.

 

No caso do CSF, era também do banco da Cidade de Deus a vantagem, mas a partida virou.

 


Com a chegada do Itaú Unibanco, não há mudança de rota no planejamento do negócio já estabelecido pelo Carrefour ou mesmo da política de crédito estabelecida pela varejista, segundo o diretor corporativo de controladoria do banco, Rogério Calderon. "Nós compramos uma parte de um banco que já está em atividade, que dá retorno. Entramos com o jogo em andamento", disse. O executivo não revelou como ficará a gestão, se o banco elegerá membros para o conselho de administração ou para a diretoria executiva.

 

Como se trata do braço de financiamento da rede de varejo, automaticamente o banco passa a compartilhar da exclusividade na oferta de produtos e serviços financeiros oferecidos nas 163 lojas da rede, entre hipermercados e supermercados. O acordo do Carrefour com a Cardif para venda de seguros de garantia estendida e prestamista será mantido.

 

No fim de 2010, a CSF tinha ativos de R$ 2,8 bilhões, uma carteira de crédito de R$ 2,3 bilhões, 7,7 milhões de contas e uma base de 11,5 milhões de cartões emitidos. A instituição fechou o ano com um lucro líquido de R$ 155,4 milhões e um retorno sobre o patrimônio líquido na casa de 25%.

 

A CSF como um todo foi avaliada por R$ 1,808 bilhão. O Itaú Unibanco pagará o equivalente a 5 vezes o valor patrimonial das ações, já considerando os dividendos já declarados (R$ 67 milhões) e extraordinários (R$ 262 milhões) que serão remetidos pela rede à matriz. Enquanto as ações do Itaú Unibanco tinham, no ano passado, uma relação Preço/Lucro (P/L, múltiplo que dá uma ideia do prazo do retorno do investimento) de 14 vezes, o negócio com o Carrefour saiu numa proporção de 11,6 vezes, explicou Calderon. O pagamento dos R$ 725 milhões será em dinheiro, tão logo a operação seja aprovada pelo Banco Central.

 

Apesar de o Bradesco ter pago, em junho de 2009, R$ 1,4 bilhão em ações por 100% do Banco Ibi, que tinha na ocasião R$ 5,6 bilhões em ativos, mais do que o dobro da CSF, Calderon não quis comentar se o valor foi alto demais ou se os negócios de financiamento ao consumo estão ficando sobrevalorizados no mercado brasileiro.

 

Os investimentos do Itaú nessa área não têm sido triviais: só pela parceria com o Pão de Açúcar numa financeira conjunta o banco desembolsou mais de R$ 1 bilhão e vai ter que abrir o caixa novamente se quiser ficar com a operação da Casas Bahia, hoje nas mãos do Bradesco. Contando Magazine Luiza, Lojas Americanas e Marisa foram outros R$ 620 milhões, sem incluir os R$ 237 milhões pagos pelo Unibanco quando adquiriu o cartão Hipercard, da rede Bompreço - hoje Walmart.

 

Com a "joint venture" com o Carrefour, o Itaú reafirma a estratégia de crescer no crédito massificado, atuando para além da agência bancária, junto à baixa renda, concluiu Calderon.



Veículo: Valor Econômico


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