Durante sua passagem pela China a presidente Dilma Rousseff sinalizou sua apreensão com a questão cambial brasileira ao dizer que o valor excessivo do real, na comparação com o dólar é uma "grande preocupação".
"Nós temos tomado todas as medidas possíveis para enfrentar o problema do câmbio num quadro em que a política cambial é flexível. Todos nós sabemos, perfeitamente, o porquê nós estamos [fazendo isso]", afirmou a presidente durante a visita.
Dilma enumerou as questões que geram a valorização do câmbio brasileiro, como a inundação de recursos provocada pelo mecanismo chamado de quantitative easing (injeção de dinheiro na economia) adotado pelos Estados Unidos, passando pelo ajustes orçamentários nos países desenvolvidos e chegando "até ao fato de o Brasil ainda operar com taxa de juros mais elevada do que o resto do mundo".
A presidente acrescentou que "não é uma situação que se resolve por decreto". Mas disse que o governo está "consciente, alerta e tomando as medidas necessárias para que o problema não fique maior do que já é". Ao ser questionada sobre as reclamações de empresários brasileiros, que dizem ter dificuldades para exportar para a China, justamente por conta do câmbio, a presidente disse que hoje o mundo assiste a um processo pelo qual a disponibilidade de grande liquidez provoca processos "extremamente instáveis" de valorização de moedas. "Temos visto um esforço imenso que o Ministério da Fazenda e o Banco Central vêm fazendo no sentido de coibir movimentos especuladores. Vamos continuar perseguindo isso", insistiu.
Para o presidente da Transaex, Paulo Pinto, a questão cambial já está inserida no cronograma do governo federal, atrelado a políticas econômicas do País.
"O câmbio tem o seu destaque na receita financeira do governo, porém, as políticas econômicas que envolvem a depreciação da moeda estão atreladas às questões fiscais, os gastos governamentais e a arrecadação de impostos. A partir do momento que a Dilma adota esse discurso, ela demonstra que vai encontrar meios para que as políticas econômicas para a inversão do quadro cambial valorizado, que já teve início com a redução do orçamento da União de 2011", argumentou Pinto.
Outra afirmação da presidente, com relação a economia brasileira, foi relacionada a taxa de juros - Selic. "Iremos derrubar os juros ao longo do meu governo, para torná-lo compatível com a taxa internacional. Não vou derrubar depois de amanhã. Estou dizendo que é num horizonte de quatro anos. É possível, sim, perfeitamente. Esse é o desafio que o Brasil vai ter de enfrentar, pelo menos desta vez", afirmou.
Questionada sobre qual seria o valor da taxa de juros compatível, Dilma frisou que "ninguém poderia responder".
Segundo Paulo Pinto, uma taxa de juros compatível com o mercado internacional giraria em torno de uma redução de 25% a 30% da atual 11,75%, o que resultaria na Selic entre 6% e 7%. "Esta redução é possível nos próximos quatro anos de governo, caso não haja nenhum acontecimento mundial como uma nova crise."
Acordos
Os presidentes do Brasil e da China (Hu Jintao) assinaram acordos de cooperação nas áreas de política, defesa, ciência e tecnologia, recursos hídricos, inspeção e quarentena, esporte, educação, agricultura, energia, energia elétrica, telecomunicações e aeronáutica, entre outros.
Segundo comunicado conjunto, os presidentes reiteraram o compromisso de promover "o desenvolvimento das relações bilaterais com visão estratégica e de longo alcance".
A China manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado provenientes do Brasil, e ambos os países se comprometeram a ampliar e diversificar investimentos recíprocos, em particular na indústria de alta tecnologia e automotiva, além dos setores de energia, mineração e logística, sob a forma de parcerias entre empresas chinesas e brasileiras.
"Dados oficiais do Ministério das Relações Exteriores apontam uma alta participação das exportações brasileiras para a China de 13,2%, enquanto a China representa 12,5% das importações totais do Brasil. Nesse sentido, o continente asiático como um todo é expressivo para o Brasil na geração de entrada de divisas, gerando superávits comerciais", explica Giuliana Santini Pigatto, professora doutora em Comércio Exterior da Unesp.
"Não podemos mensurar em valores como os acordos realizados na China irão beneficiar o Brasil, mas estes determinam que a China é o foco e a preocupação como principal parceiro comercial definitivamente, e não mais esporádico. A balança comercial com a China é superavitária e o equilíbrio qualitativo deverá acontecer, mas não como resultado dessa visita, este é o primeiro passo de amadurecimento da relação comercial", finaliza o presidente da Transaex.
Veículo: DCI