Ampliação de comércio com China pode ameaçar Brasil

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A ampliação das relações comerciais, financeiras e produtivas entre Brasil e China traz oportunidades no curto e médio prazo que podem representar ameaças para o Brasil no longo prazo. A conclusão é do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).

 

O estudo da entidade foi divulgado na sexta-feira, antecipando a viagem da presidente Dilma Rousseff à China. Dilma chega hoje àquele país e se reúne amanhã com o presidente chinês Hu Jintao. Na quarta-feira, a presidente brasileira se encontra com o primeiro-ministro Wen Jiabao e com Wu Bangguo, presidente da Assembleia do Povo. Na quinta-feira, Dilma estará em Sanya para a 3ª Cúpula dos BRIC (grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia e China) e manterá reuniões bilaterais. Na sexta-feira é a vez do 10º Fórum Asiático de Boao - correspondente, na Ásia, ao Fórum Econômico de Davos. No sábado, Dilma volta ao Brasil, mas antes visita os guerreiros de terracota.

 

Segundo o Ipea, entre os riscos da relação Brasil e China estão a perda de participação das exportações brasileiras em terceiros mercados para a China, desadensamento da estrutura produtiva nacional, perda do controle estratégico sobre fontes de energia e aumento da vulnerabilidade externa estrutural.

 

O pesquisador do Ipea, Eduardo Costa Pinto, afirmou que a ampliação do comércio bilateral promove pressão competitiva das manufaturas chinesas sobre o parque industrial brasileiro. O Brasil tem perdido participação nas exportações de maior intensidade tecnológica em terceiros mercados (Europa, Estados Unidos e América Latina) pela expansão das exportações chinesas.

 

Além disso, o Brasil tem importado cada vez mais produtos de alto valor agregado da China e exportado commodities para aquele país. No entanto, Costa Pinto não acredita que a balança comercial entre Brasil e China passe a ficar deficitária para o lado brasileiro. Apesar da tendência do Brasil de importar cada vez mais produtos manufaturados da China, o pesquisador acredita que o Brasil deve ampliar as vendas de alimentos aos chineses.

 

"Mesmo com a redução do crescimento econômico, a questão dos alimentos é central para eles. É um dos grandes limites do crescimento chinês", afirmou. Essa demanda por alimentos na China, diz Costa Pinto, elevou o preço internacional dos produtos. Por outro lado, como a China ganhou escala na produção de manufaturados, tem reduzido o preço desses produtos comprados pelo Brasil.

 

Ele alerta, no entanto, que a pressão competitiva das manufaturas chinesas tende a gerar um processo de desadensamento da cadeia produtiva doméstica. Para o pesquisador, também há risco de forte expansão do investimento direto chinês no Brasil fora das prioridades da política industrial e a perda do controle estratégico do Brasil sobre as fontes de energia e de recursos naturais. "O Brasil precisa ter regulação sobre a entrada de investimento chinês. Queremos que a entrada dos chineses no agronegócio seja para agregar valor local e não para comprar terra e mandar soja pra fora." Para ele, o funding chinês pode potencializar os aportes brasileiros em infraestrutura.

 

O Ipea recomenda algumas estratégias para o governo brasileiro enfrentar os desafios da ampliação das relações com a China. Um deles é usar de forma mais intensa os instrumentos de defesa comercial no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Também defende a necessidade de negociar com o governo chinês o estabelecimento de condições isonômicas para a operação das empresas brasileiras na China. O pesquisador lembra que a atuação de empresas nacionais na China ocorre em setores regulados por Pequim, dificultando acesso ao mercado.

 

Expectativas e negócios

 

A expectativa do governo brasileiro é que a China anuncie encomendas de 50 jatos da Embraer modelo EMB 190 e mais 25 do ERJ 145. No entanto, na semana passada, os chineses indicaram que ainda estavam fazendo cálculos e poderiam reduzir o tamanho do pedido à metade por causa da crise.

 

Em relação ao câmbio, o Brasil quer que o assunto seja discutido no âmbito da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban), para não contaminar a relação entre os dois países. Além disso, o Brasil não deve reconhecer a China como economia de mercado, promessa feita pelo governo brasileiro em 2004. Da mesma forma, Dilma não deve tratar de um tema espinhoso para os chineses: os direitos humanos. Existe ainda a possibilidade de o governo brasileiro reivindicar o apoio chinês a uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).

 

 

Veículo: DCI


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