Prejuízo de bancos com atrasos em cartão de crédito aumenta 25%

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Influenciado pela retomada do crescimento econômico brasileiro, o sistema bancário no segundo semestre de 2010 alcançou saldo das operações de crédito de R$ 1,5 trilhão, o que representa 45,5% dos ativos e expansão de 12% em relação ao semestre anterior. No entanto, no acumulado de 12 meses do ano há aumento da inadimplência em específicas carteiras de crédito que, originalmente, eram classificadas entre os níveis de risco AA e C. As informações constam no Relatório Estabilidade Financeira, do Banco Central.

 

Na comparação de dezembro de 2009 a 2010, as operações em prejuízo no empréstimo rotativo cartão de crédito teve 25% de aumento, de 45,6% para 57%. O cheque especial e adiantamento a depositantes também tiveram elevação de 16,02%, de 20,6% em 2009 por 23,9% em 2010.

 

Para o educador financeiro Mauro Calil, os números revelam a falta de disciplina financeira do brasileiro. "O aumento das operações em prejuízo na carteira de cartões de crédito é fruto da gastança desenfreada da população. Por um lado é bom para gerar negócios para o banco, mas pode gerar um problema lá na frente". Segundo o especialista, o fato pode, inclusive, influenciar no índice de Basileia: "Entre os índices que definem a Basileia, há o crédito não recebível. Se não houver negociação até o quarto mês, pode começar a denegrir os indicadores dos bancos".

 

Outras carteiras apresentaram queda na porcentagem de operações em prejuízo no acumulado de 12 meses de 2010. A inadimplência no financiamento de veículos era de 5,1% em 2009, já em 2010 foi de 4,9%. O empréstimo consignado teve queda em prejuízo de 6,06% de 3,3% para 3,1%. A porcentagem de pessoas que não pagaram as prestações no financiamento imobiliário cresceu no acumulado de 2010, em comparação com o período anterior, foi de 0,9% para 1,0%.

 

Para o Banco Central, a expansão das modalidades que apresentam menor risco é responsável pelo crescimento semestral de 12% do volume de crédito destinado às pessoas físicas, que atingiu R$ 737 bilhões em dezembro. O financiamento habitacional representa 24,6% do total e o crédito consignado 13%.

 

Ainda de acordo com o relatório do BC, o comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas levantam preocupações. O grupo de 50% das pessoas de menor renda teve 25,8% dos rendimentos comprometidos com o pagamento de dívidas em dezembro, em contraposição aos 21,7% do outro grupo de devedores. A classe social com maior comprometimento da renda é aquele que apresenta o menor nível de educação financeira o que, segundo o BC, levanta preocupações quanto à qualidade dos créditos destinados.

 

Celso Grisi, economista e diretor presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, acredita que para diminuir os riscos de inadimplência em algumas carteiras de crédito é preciso medidas de contenção de crédito. "O Brasil está com alto nível de emprego e renda, o governo precisa realizar medidas para conter a inflação e o endividamento. Por exemplo, reduzir o prazo de financiamento de automóveis e promover o crédito imobiliário em outras regiões das cidades, como na periferia."

 

O prazo médio de financiamento em carteiras para pessoas físicas demonstra trajetória de expansão no relatório do BC. O financiamento habitacional, que corresponde a 17,7% do crédito no alongamento dos prazos, o LTV (na sigla em inglês loan-to-value) caiu ao longo de 2010, atingindo em 60,6%. Na carteira de veículos, que corresponde a 25,8%, o LTV foi de 74,2%.

 

Apesar dos riscos em algumas carteiras de crédito e as medidas do Banco Central de reajuste das taxas de juros, o crédito no setor bancário continua como fonte rentável aos bancos brasileiros, segundo Antonio de Julio, especialista em finanças do Moneyfit. "Se fosse um mal negócio, os bancos não forneceriam crédito. Mesmo com a inadimplência, eles continuam a lucrar com o volume e reajuste de taxas".

 

 

De acordo com o crescimento macroeconômico do Brasil, o lucro dos bancos avançou R$ 4,7 bilhões no segundo semestre de 2010, ao atingir R$ 30 bilhões e superando em R$ 3,5 bilhões o total do primeiro semestre de 2008, momento anterior a crise econômica mundial.

 

De acordo com o relatório do Banco Central, o resultado revela melhora contínua em sua qualidade de acordo com o aumento na participação do resultado da intermediação financeira e a redução na contribuição dos resultados não operacionais em sua formação.

 

Segundo Mauro Calil, educador financeiro, o início da recuperação em 2010 do lucro dos bancos revela que o sistema bancário acompanha a economia brasileira. "O crescimento dos bancos deve continuar em 2011, caso a economia continue no mesmo ritmo e não aconteça outra crise financeira. Mesmo assim, o sistema bancário brasileiro é consolidado", acrescentou Calil.

 

Veículo: DCI


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