Selic pode não ser um bom remédio contra o preço dos alimentos

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Alguns economistas e o governo concordam que o emprego e a renda sem freio mantêm o ímpeto consumista em alta

 

A alta dos preços das commodities e o crescimento da renda do brasileiro nos últimos anos têm limitado o efeito das altas de juros promovidas pelo Banco Central (BC) no combate à inflação.

 

Os alimentos e serviços respondem por mais de 40% do índice de preços usado como referência pelo governo, o que faz com que uma parte importante da inflação não responda tão prontamente ao remédio tradicional, que é a elevação abrupta da Selic - um mecanismo preventivo usado fartamente nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

 

Isso acontece porque, no caso dos alimentos, o movimento está diretamente relacionado à elevação dos preços das commodities - cuja pressão vem do mercado internacional. A inflação dos serviços reflete os efeitos de um mercado de trabalho aquecido, o que possibilitou a melhora constante da renda.

 

A manutenção do emprego e da renda levou as empresas a repassar o aumento dos custos para os preços. Por enquanto, os índices de emprego não mostram nenhum tipo de reversão, a ponto de afetar as expectativas dos consumidores - o que adiciona insegurança em relação ao fato de que a tendência é de mais endividamento das famílias.

 

Ímpeto consumista. Um dos maiores desafios do BC para segurar a pressão nos preços no início da gestão Dilma Rousseff é justamente diminuir o ímpeto consumista patrocinado pelo ganho de renda e pelo crédito fácil dos últimos anos. As medidas adotadas pelo governo nos últimos meses, que restringem prazos e encarecem sobretudo o crédito mais longo, desaceleraram a concessão de empréstimos nos dois primeiros meses do ano, mas estão longe de significar um pé no freio no consumo.

 

Diante de um cenário atual incerto, a estratégia adotada pela equipe econômica é tomar medidas de forma gradual para analisar os resultados. O objetivo é evitar uma desaceleração brusca da economia, cujo ritmo de expansão deve recuar de 7,5%, em 2010, para algo entre 4% e 4,5%. A expectativa do governo é de que inflação desacelere no segundo semestre.

 

Boa parte dos analistas admite que as medidas macroprudenciais ajudam a encarecer o crédito, mas não substituem o efeito da Selic. "O remédio é juros. E quanto mais o governo demorar, maior será depois a dose", prega o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

 

O economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, diz que, no curto prazo, "não tem mágica". Para barrar a disseminação da inflação, afirmou ao Estado, o governo tem de elevar os juros, movimento que já foi adotado pelos países emergentes. "É o que tem que ser feito, caso o governo queira cumprir a meta de 2012".

 

Para o consultor Amir Khair, mais juros provocarão a desaceleração da economia, mas sem conter a inflação. "Daremos um tiro no pé. A alta da Selic traz um efeito colateral danoso, que é atrair uma enxurrada de dólares para cá. A inflação é um movimento internacional. Grande parte vem de fora."

 

Veículo: O Estado de S. Paulo


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