Mais de US$ 5,2 milhões em balas, chocolates e confeitos brasileiros estão no depósito dos importadores. Brasil cogita retaliação
A Argentina está ameaçando "devolver" balas, chocolates e confeitos vendidos pelo Brasil. Cerca de 15 fabricantes brasileiros já têm mais de US$ 5,2 milhões em mercadorias paradas nos depósitos dos importadores. A situação irritou o governo Dilma Rousseff, que estuda tomar medidas mais duras contra o país vizinho.
Segundo fontes do setor privado brasileiro, o Instituto Nacional de Alimentos (Inal) da Argentina interrompeu - sem explicar os motivos - a concessão dos certificados sanitários necessários para que os produtos circulem no país. O Inal é o equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil.
Nos últimos dias, um outro órgão do governo argentino, a Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip), começou a notificar os importadores de que seus produtos estavam em situação irregular. A Afip informou que, dentro de 30 dias, os produtos devem ser devolvidos ao Brasil ou será cobrada uma multa equivalente a até cinco vezes o valor da mercadoria.
A situação criou um impasse para as empresas brasileiras. Fontes ouvidas pelo Estado dizem que as ordens para dificultar a circulação dos produtos partiram do secretário de Comércio Interior da Argentina, Guilhermo Moreno. Com os depósitos lotados e preocupados com as incertezas, os importadores já estariam cancelando pedidos.
Não é a primeira vez que os produtos alimentícios brasileiros enfrentam dificuldades na Argentina. No ano passado, a entrada dessas mercadorias foi barrada na fronteira, provocando filas de caminhões e prejuízos, como o vencimento da validade dos produtos e altos gastos com refrigeração. Agora, para evitar a mídia negativa, os argentinos adotaram outro expediente.
O setor privado já procurou o governo brasileiro. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) enviou uma carta ao Ministério do Desenvolvimento pedindo medidas para lberar a circulação dos produtos.
"Do ponto de vista da Fiesp, o limite de tolerância já superou o suportável. Achamos que a única forma de resolver é com retaliação. E é isso que vamos propor", disse Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Comércio Exterior (Decex), da Fiesp.
Gota d"água. Somados a outros problemas que os produtos brasileiros estão enfrentando nesse mercado, a medida foi a "gota d"água" para o governo brasileiro, que se prepara para tomar medidas contra vizinho. "O clima é de retaliação, mas a decisão ainda não foi tomada", disse uma fonte do governo.
Há uma frustração crescente entre os auxiliares de Dilma com as arbitrariedades da Argentina. Em fevereiro, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, esteve em Buenos Aires. Na época, a ministra da Indústria, Débora Giorgi, assumiu o compromisso de não prejudicar os produtos brasileiros. Como os argentinos não cumprem o prometido, a visão no Brasil é de que não adianta conversar.
No domingo passado, empresários do setor de balas, chocolates e confeitos se encontraram com o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, durante evento da Fórmula Indy, em São Paulo. E aproveitaram para reclamar do problema. "É o fim do diálogo. Vamos partir para a ação", disse Teixeira.
Veículo: O Estado de S.Paulo