Aumentos salariais reforçam indexação e turbinam preços

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Reajustes reais conquistados por sindicatos podem realimentar inflação, complicando o trabalho do BC

 

Mercado de trabalho aquecido e inflação alta têm acelerado a busca de empresas e trabalhadores por reajustes maiores de preços e salários.

 

Isso vem alimentando um movimento de indexação informal em que o setor privado tenta repor perdas provocadas por aumentos de custos mesmo nos casos em que não há reajustes automáticos previstos em contrato.

 

Um sinal disso surgiu nas negociações salariais concluídas nos primeiros quatro meses do ano. Levantamento feito pela Folha com 40 categorias que renegociaram salários neste ano revela que todas conseguiram reajustes reais, acima da inflação.
No ano passado, duas dessas categorias não conseguiram repor a inflação passada e em geral os reajustes foram menos generosos. Neste ano, uma em cada quatro categorias conseguiu aumentos reais superiores a 3%.
"O mercado de trabalho continua apertado com a economia ainda aquecida. Isso enseja demanda por reajustes altos de salários", diz o economista Sérgio Valle, da consultoria MB Associados.

 

Mecanismos como esse contribuem para reforçar a indexação da economia brasileira, aumentando o risco de que o surto inflacionário dos últimos meses alimente novos aumentos de preços.

 

Estudo da consultoria Tendências revela que os preços que têm algum tipo de indexação subiram mais que a inflação no país neste ano.

 

Alguns, como aluguéis, pedágios e tarifas de serviços públicos, têm a reposição da inflação garantida por contrato. Outros, como salários de empregadas domésticas e mensalidades escolares, sobem mesmo sem ter a correção assegurada em lei.
"Esses serviços têm uma espécie de indexação informal ou oculta", explica o economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos.

 

Isso torna especialmente complicado o trabalho do Banco Central no combate à inflação, que no mês passado furou o limite superior da meta fixada pelo governo para este ano, de 6,5%.

 

TRANSMISSÃO

 

Metade da taxa de inflação observada neste ano poderá se repetir no próximo por causa da indexação.
Cálculos do economista José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da Opus Gestão de Recursos, indicam que, para cada ponto percentual de inflação verificado em 2011, 0,55 pode ser transmitido automaticamente para 2012.

 

Se a inflação medida pelo IPCA, principal índice de preços do país, chegar a 6,4% no fim do ano, como ele prevê, isso geraria uma herança inflacionária de cerca de 3,5% para o próximo ano.
"Essa é a transmissão esperada apenas por conta da indexação", diz Camargo. "Não considera o impacto de novas altas nos preços de commodities, por exemplo."
Ramos, da Quest Investimentos, também estima que o nível de transmissão da inflação passada no Brasil seja elevado, entre 45% e 50%.
"O grau de repasse no Brasil já era alto e cresceu nos últimos meses por conta da inflação elevada", diz Ramos.

 

A professora Margarida Gutierrez, da UFRJ, lembra que o Brasil tem uma indexação elevada porque tem no retrovisor a hiperinflação.
"Foram criados mecanismos sofisticados de sobrevivência", diz, citando a correção monetária. "O Plano Real acabou com o gatilho inflacionário, mas permanece a ideia de acordos a cada ano."

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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