Puxado pela alta da inflação e pelo desequilíbrio do orçamento familiar, índice de inadimplência da Serasa sobe pelo segundo mês seguido
O avanço da inflação, o aumento das taxas de juros e o desequilíbrio entre o gasto e a renda das famílias impulsionaram a inadimplência do consumidor em abril. Dois indicadores de atraso no pagamento, um da Serasa Experian e outro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mostram que o calote da pessoa física em abril cresceu tanto em relação a março como em relação ao mesmo mês de 2010 para um nível que já requer cautela.
Pelo segundo mês consecutivo, o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor cresceu. Em abril foi 1,5% em relação ao mês anterior, depois de ter aumentado 3,6% de fevereiro para março. "Foi a maior variação para o mês de abril em relação a março registrada desde 2002", observa o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida. Ele ressalta também que, normalmente, o pico da inadimplência ocorre em março e, em abril, há um recuo. Mas, neste ano, não ocorreu esse movimento.
Na comparação com abril de 2010, a alta foi de 17,3%. Apesar de apresentar desaceleração mensal na variação mês a mês de 2011 em relação a 2010, o acumulado do indicador de janeiro a abril está 20,3% maior que no mesmo período do ano passado.
"Não vamos ter inadimplência recorde este ano, mas esse crescimento do calote merece atenção", alerta Almeida. Em abril, as dívidas não bancárias em atraso, que incluem pendências com cartão de crédito, financeiras, lojas em geral e contas de água e luz, foram as que mais contribuíram para o aumento da inadimplência. O calote das dívidas não bancárias foi 55,6% maior em relação a abril de 2010 4,1% acima do registrado em março.
No caso das dívidas com bancos, o acréscimo foi de 3,8% ante abril de 2010 e de 3,7% na comparação com março deste ano. Já a inadimplência dos títulos protestados e dos cheques recuou nesses mesmos períodos e ajudou a atenuar a escalada do índice de inadimplência. Almeida observa que o cheque e o título protestado refletem muito mais a solvência de pequenos e microempresários que misturam as finanças pessoais com o próprio negócio.
"O sinal para a inadimplência hoje é amarelo", afirma o economista da ACSP, Emílio Alfieri. A inadimplência líquida, que é o saldo entre financiamentos com prestações atrasadas a mais de 30 dias e os financiamentos renegociados, dividido pelas vendas de três meses anteriores, atingiu em abril 9,1%. Essa marca supera em quase um ponto porcentual o resultado de março (7,6%) e de abril do ano passado (8,4%). Levando-se em conta o primeiro quadrimestre, o indicador neste ano está em 7,5% ante 6,9% no ano passado.
Na análise de Alfieri, o aumento da inadimplência ocorre em razão da situação financeira do consumidor ter piorado, com a alta dos juros e da inflação. Pesquisa da Ipsos e da ACSP com mil famílias mostra que em janeiro 56% delas achavam a situação financeira boa e 20%, ruim. Em abril, esses porcentuais estavam em 47% e 29%, respectivamente.
Veículo: O Estado de S.Paulo