Segundo pesquisa do IBGE, oito entre dez atividades pesquisadas tiveram alta; na comparação trimestral houve desaceleração
Após um início de ano fraco, as vendas no comércio varejista voltaram a tomar fôlego em março. Houve expansão de 1,2% na comparação com fevereiro. Oito entre dez atividades apuradas na Pesquisa Mensal de Comércio registraram avanço, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, na comparação trimestral, o varejo mostra desaceleração, o que pode enfraquecer o faturamento do setor em 2011, em relação ao ano passado.
No primeiro trimestre de 2011, as vendas do varejo cresceram 6,9%, contra uma expansão de 9,6% no quarto trimestre de 2010. A desaceleração também foi observada no comércio varejista ampliado, que inclui ainda as atividades de material de construção e de veículos e motos, que passou de uma alta de 14,3% do quarto trimestre de 2010 para 7,1% no primeiro trimestre deste ano.
Segundo Reinaldo Pereira, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, ainda é cedo para prever o comportamento do comércio em 2011, mas o varejo não deve repetir o bom desempenho do ano passado. "Quando olho no curto prazo, vejo crescimento no comércio varejista. Mas no longo prazo vejo desaceleração", afirmou Pereira.
O analista Rafael Cintra, da Link Investimentos, enxerga um freio no ritmo de crescimento do varejo apenas por uma base de comparação forte.
Como o comércio varejista cresceu muito em 2010, a base de comparação ficou maior e o crescimento registrado este ano parecerá cada vez menor. Mas, de acordo com Cintra, as medidas macroprudenciais adotadas pelo governo para conter o crédito só começariam a ser sentidas no segundo semestre de 2011.
"Eu acho que o ano de 2011 ainda será bom para o varejo sim. Talvez a inflação maior possa corroer a renda do trabalhador, mas isso seria só em 2012", avaliou Cintra, que espera um abril ainda bom para o varejo, graças às vendas da Páscoa.
O economista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria Integrada, prevê uma continuidade da trajetória de expansão das vendas no varejo para os próximos meses. A projeção para 2011 é de uma alta de 6,8%. O crescimento da massa salarial contribuiria para impulsionar o consumo, embora um freio nos financiamentos possa afetar o comércio de bens duráveis.
"Para os próximos meses, apesar da evolução favorável esperada para a massa salarial real, as vendas de material de construção e de veículos deverão desacelerar por conta da continuidade da piora já observada nas condições de crédito", avaliou Andrade.
Expectativa. O resultado positivo do varejo em março veio em linha com as expectativas do mercado. Entre os setores que contribuíram para a alta está o de veículos e motos, partes e peças. As vendas tiveram expansão de 3,8% em março frente a fevereiro, mostrando uma recuperação após queda nos dois meses anteriores. Em relação a março do ano passado, no entanto, houve recuo de 12,8%, o primeiro resultado negativo dos últimos seis meses para o setor nesse tipo de comparação. A queda é explicada pela comparação com março, quando o governo colocou fim ao programa de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os veículos.
"Isso provocou uma antecipação das compras de automóveis e aconteceu em outros setores também, mas numa escala menor", contou Pereira. No primeiro trimestre de 2011, as vendas do setor de veículos registram alta de 6,4%. No acumulado de 12 meses, o volume subiu 10,7%.
Veículo: O Estado de S.Paulo