Ritmo de crescimento é de 5,2%, o que pressionaria a inflação, mas técnicos do BC dizem que começam a surgir sinais de desaceleração
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou aceleração da economia brasileira no primeiro trimestre de 2011 e reforçou as preocupações do mercado financeiro com o impacto do aquecimento econômico sobre a inflação.
Criado para antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), que é divulgado pelo IBGE com maior defasagem, o IBC-Br registrou alta de 1,28% (descontados os efeitos sazonais) na média de janeiro a março em comparação com a média do quarto trimestre do ano passado.
Anualizando-se o resultado, o ritmo de crescimento econômico apontado pelo índice no primeiro trimestre foi de 5,2%, que estaria acima do que o mercado, em média, considera como potencial de expansão do País (4,5%). No quarto trimestre do ano passado, o IBC-Br teve alta de 1,03% ante os três meses anteriores, o que representou expansão anualizada de 4,2%.
Apesar da clara aceleração na margem, o BC defende, nos bastidores, outra leitura do seu índice, que mostraria um processo de perda de ritmo da economia. Segundo fonte da área técnica, uma análise comparando a evolução trimestral do IBC-Br contra igual período do ano anterior evidenciaria trajetória de desaceleração da economia que, na visão dessa fonte, deverá continuar nos próximos trimestres.
A fonte usou dados mostrando que, no primeiro trimestre de 2010, o indicador teve alta de 9,84% ante igual período de 2009; no segundo, alta de 9,49%; no terceiro, 7,22%; no quarto trimestre, 4,82%; e no primeiro trimestre de 2011, dado divulgado ontem, 4,4% de expansão.
Essa evolução, segundo a área técnica, estaria em linha com o cenário de desaceleração previsto pelo Banco Central.
Dúvida. Para o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, a comparação defendida pelo BC não faz muito sentido. Ele lembra que no primeiro trimestre do ano passado a base de comparação - o início de 2009 - era uma economia no fundo do poço, distorcendo a análise. Para ele, é inegável que houve aceleração da atividade neste início de ano, o que reforça o cenário de pelo menos mais duas altas da taxa de juros básica, embora o economista avalie que os juros deveriam subir mais.
"O governo uma hora analisa o dado na margem para dizer que está desacelerando, como fez em fevereiro, outra, como fez em março, usa o dado comparado com o ano passado para dizer que está desacelerando. O ponto é que a economia ainda esta aquecida", criticou o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, que aponta o consumo e o investimento como motores da expansão.
A área técnica do Banco Central avalia que, com a combinação de medidas macroprudenciais e o processo de alta de juros, a tendência é de a economia desaquecer ainda mais e rodar abaixo da capacidade (que o mercado estima na média em 4,5%) no segundo semestre.
A expansão abaixo do PIB potencial é considerada pelo Banco Central como condição necessária para que a inflação seja reduzida e recolocada na direção da meta de 4,5%, alvo a ser perseguido em 2012. "Há uma tendência de queda na atividade econômica, refletindo as medidas que têm sido adotadas. O PIB crescerá abaixo do potencial no segundo semestre", disse a fonte.
Veículo: O Estado de S.Paulo