Crédito cresce menos, mas preocupa

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Juros sobem e ritmo de aumento de financiamentos cai, porém ainda há dúvidas se a desaceleração será suficiente para conter a inflação

 

O crédito ficou mais caro, com mais calotes, e cresceu em um ritmo considerado adequado pelo Banco Central nos primeiros quatro meses do ano. Mas a alta nos últimos 12 meses encerrados em abril no estoque de financiamento reforçou as dúvidas sobre se o governo conseguirá de fato desacelerar o crédito para 10% a 15% de expansão neste ano, faixa considerada ideal para colocar a inflação de volta na meta.

 

Segundo dados divulgados ontem pelo BC, o estoque de crédito atingiu R$ 1,78 trilhão em abril, o equivalente a 46,6% do PIB. O saldo mostrou crescimento de 4,1% no ano (em torno de 13% em termos anualizados), mas em 12 meses ainda tem forte expansão: 21%. Os juros no crédito livre subiram pelo quinto mês seguido, atingindo a marca de 39,8% ao ano e já superando os 40% nos dados parciais de maio.

 

O desempenho do crédito no início do ano reflete o dilema do governo no front inflacionário. Enquanto os dados correntes mostram números relativamente moderados, os dados em 12 meses apontam um desempenho ainda muito intenso e fora do almejado pela equipe econômica, alimentando o debate sobre se o processo inflacionário está sendo controlado.

 

Embora o desempenho dos quatro primeiros meses do ano esteja no nível desejado pelo BC, em igual período do ano passado, quando ainda não havia medidas de aperto no crédito e alta dos juros, a expansão foi até um pouco menor: 3,8%. Depois, o ritmo se acelerou e encerrou 2010 com alta acima de 20%.

 

Além disso, o desempenho moderado se deve mais à perda de vigor nos financiamentos do BNDES do que por um tranco nos financiamentos com recursos livres, aqueles voltados mais diretamente ao consumo, que o governo pretende conter.

 

O chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, garantiu que no segundo semestre o ritmo do crédito será menor do que em igual período de 2010, levando a uma redução na taxa de 12 meses. A questão é se esse cenário vai se confirmar.

 

O BC deve continuar a elevar os juros e há quem defenda novas medidas de contenção de crédito. Uma das hipóteses aventadas por uma fonte do governo seria limitar os prazos e restringir a entrada do financiamento, proposta que tem fortes resistências dentro e fora do governo. Com o recuo da inflação esperado para os próximos meses, há preocupação que uma volta do otimismo alimente nova escalada do crédito.

 

Em relatório para clientes, a consultoria Rosenberg Associados enxerga um processo de arrefecimento moderado do crédito neste ano. Mas duvida que ele fechará o ano na meta do BC. "Continua prevalecendo a leitura de que a política monetária deverá continuar contracionista para garantir uma desaceleração do crédito e da atividade condizente com níveis de inflação mais próximos da meta em 2012."

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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