Ascensão social e emprego garantiram acesso de consumidores ao crediário a partir de 2007; tendência agora é de crescimento menor
Nos últimos quatro anos, 30 milhões de brasileiros começaram a usar crédito para ir às compras. A informação é de uma pesquisa nacional feita pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), baseada no total de CPFs (Cadastro de Pessoas Físicas) consultados pela primeira vez nesse período para aprovação de uma venda a prazo. Esse grupo de consumidores respondeu por 30% dos CPFs consultados.
"A média foi de 7,5 milhões de novos crediaristas a cada ano", diz o economista-chefe da ACSP, Marcel Solimeo. Mas ele pondera que o maior ingresso de novos adeptos do crediário ocorreu em 2007 e 2008, antes da crise financeira. Em 2010, ingressaram cerca de 6 milhões de consumidores no mercado de crédito. Para este ano, ele acredita que esse número seja bem menor, mas nada desprezível: entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas.
A entrada de novos consumidores, fruto da ascensão social das classes de menor poder aquisitivo que ocorreu no País, combinada com o desemprego em níveis historicamente baixos e prazos ainda longos, deve fazer com que o crédito ao consumidor com recursos livres cresça neste ano 18%, nas projeções de Solimeo. Essa taxa está acima da pretendida pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, de 15%. Mas é menor que a registrada em 2010 (28,9%).
"A desaceleração do crédito ao consumo com recursos livres é lenta porque a política de restrição ao consumo do BC tem sido gradativa", ressalta.
Uma boa parte desses novos consumidores comprou o carro zero-quilômetro pela primeira vez. Dados do mercado automotivo mostram que, no ano passado, 435.400 brasileiros adquiriram pela primeira vez um carro zero. Esse volume representou 13,08% do total de automóveis e veículos comerciais leves comercializados em 2010.
De acordo com analistas do setor automotivo, 70% dos carros zero-quilômetro são adquiridos por meio de financiamentos. E, apesar da elevação das taxas de juros, os prazos continuam camaradas. Em feirões realizados nos fins de semana, é possível encontrar veículos novos vendidos em 60 meses, sem entrada, a título promocional.
Passaporte. Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, existe hoje um fator que dá mais resistência ao crédito ao consumidor, que é a grande oferta de emprego, apesar de todo esforço do governo para esfriar o consumo. "A carteira de trabalho assinada é o passaporte para comprar a prazo."
Ele argumenta que o ambiente continua favorável aos financiamentos. Do lado do consumidor, ele não vê risco de desemprego. Da parte dos bancos e financeiras, o cenário é benéfico porque a inadimplência ainda está em níveis bem comportados.
Os dados divulgados ontem pelo BC mostram que o saldo de crédito para o consumidor com recursos livres e referendados em taxas de juros de mercado atingiu R$ 450,2 bilhões em abril, cifra 1,6% maior do que em março. No ano, o aumento foi de 7,9% e em 12 meses, até abril, de 27,6%, apenas 1,3 ponto porcentual menor do que a taxa de crescimento de 12 meses em dezembro do ano passado.
Levando em conta o crescimento até abril, Ribeiro de Oliveira calcula que, para que o crédito ao consumidor chegue em dezembro deste ano com crescimento de 15% ante 2010, será necessário que a taxa de crescimento mensal dos empréstimos caia pela metade. Isto é, de 1,6% de março para abril para algo em torno de 0,8% ao mês entre maio e dezembro. "Para atingir essa meta, seria necessária uma brusca freada no crédito, com puxada nos juros e novas medidas restritivas ao consumo das famílias", diz Ribeiro de Oliveira.
Veículo: O Estado de S.Paulo