Mercado espera alta expressiva de janeiro a março, a ser divulgada hoje, e arrefecimento no segundo tri. Dúvida é sobre o quanto o ritmo vai cair
Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve divulgar, de acordo com a previsão da maior parte dos analistas, um resultado bastante forte para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. No segundo trimestre, porém, já há sinais de arrefecimento, e a grande discussão no mercado é se uma desaceleração significativa está claramente em curso, ou se ainda é cedo para se fazer essa aposta.
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, diz que "a surpresa do primeiro trimestre foi, na verdade, um voo de galinha". Ele prevê alta em torno de 1,3% no resultado a ser divulgado hoje, em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada. Essa alta, porém, para o economista, deve estar fortemente apoiada num grande crescimento dos investimentos, que ele considera quase acidental.
Bráulio atribui a alta dos investimentos no primeiro trimestre à data em março do encerramento do Programa de Sustentação do Investimento do BNDES (linha mais barata criada em 2009 para combater a crise global). "Houve antecipação de compra de maquinário por causa do fim do PSI." O programa acabou prorrogado, mas com condições mais restritivas.
No segundo trimestre, Bráulio prevê que aquela antecipação prejudique os investimentos. Segundo o economista, isso já aparece no dado ruim da produção industrial em abril (que caiu bem acima das projeções do mercado), quando o recuo dos bens de capital foi de quase 3%.
Assim, Bráulio projeta crescimento de apenas 0,6% a 0,7% no segundo trimestre, notando ainda que a confiança dos consumidores e da indústria em maio estava, respectivamente, 7,1% e 2,5% abaixo do nível de novembro. Além disso, apesar dos dados ainda positivos de emprego, ele observa que o rendimento médio real em abril estava 2,8% abaixo do nível de outubro.
Há no mercado, por outro lado, uma corrente mais cética quanto à desaceleração. "A evidência é muito tênue, estamos olhando apenas abril", diz um ex-diretor do Banco Central. Ele nota que a forte queda da produção industrial em abril acompanhou um movimento semelhante no mundo inteiro, que ele atribui às consequências do terremoto no Japão. No crédito, por sua vez, o economista diz que a contenção parte mais do BNDES do que do segmento livre dos bancos.
Segundo José Márcio Camargo, sócio da Opus Gestão de Riscos, "há alguns sinais muito leves de desaceleração (no segundo trimestre), mas acho que tem de esperar para ver até que ponto vai acontecer". Camargo nota que os dados da Federação Nacional de Distribuição de veículos Automotores (Fenabrave) indicam um forte crescimento de 10,15% nas vendas em maio, comparadas a abril.
Para ele, está claro que a economia não cresce mais a 7,5%, como no início de 2010. "O problema é que não dá para saber ainda o quanto ela esfriou."
Veículo: O Estado de S.Paulo