Medidas devem impactar os negócios no 2º semestre

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O comércio deve começar a sentir os efeitos das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo federal, com o objetivo de desacelerar o consumo, a partir do próximo semestre. De acordo com especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, embora não tenha havido arrefecimento significativo nos primeiros cinco meses deste ano, os principais indicativos já apontam para uma retração nas vendas.

 

Segundo o economista e professor do MBA em economia empresarial da FGV/IBS, Mauro Rochlin, os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) refletem a tendência de queda. "O item que mede o consumo das famílias subiu apenas 0,6% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2010. Antes, o indicativo subia cerca de 2%, o que comprova o fenômeno", argumenta. Conforme o estudo, este foi o menor avanço desde o quarto trimestre de 2008, no auge da crise internacional.

 

Já o coordenador da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, destacou a diminuição registrada pela pesquisa Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), realizada pela entidade.

 

"Houve uma queda de 2% no indicativo, ocasionada pela situação dos estoques, que ficaram acima do previsto. A análise também apontou para uma queda de 10% na intenção dos empresários de remontarem seus estoques, o que pode ser interpretado como uma adaptação à uma velocidade de vendas mais baixa", explica.

 

"O crescimento de 1,9% do setor no trimestre passado já não deve se repetir nestes três meses", prevê Bentes. A estimativa da entidade é de que o varejo registre, neste ano, um crescimento de 7,4%, 3,5 pontos percentuais a menos do que os 10,9% apurados em 2010.

 

Os últimos números do IBGE já refletem a tendência de queda no consumo

 

Conforme o presidente do Programa de Administração do Varejo (Provar), Cláudio Felisoni, os principais responsáveis pela retração que começa a dar sinais na economia brasileira são as altas taxas de juros e a inflação.

 

"A ponta do consumo já está sentindo o peso dos juros. Em abril do ano passado, a taxa era de 41,1% ao ano. No mesmo mês deste ano, o número já chegava a 46,8%, um aumento significativo. O prazo médio do pagamento também é um forte indicativo. No quarto mês de 2010, o período era estimado em 509 dias. Em abril de 2011, já foram necessários 567 dias, o que significa que as pessoas estão levando mais tempo para conseguir quitar as dívidas", observa. "Além disso, a inflação corrói o rendimento real e faz com que sobre menos recursos para as compras", destaca.

 

Já o alerta da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) é com relação ao aumento da inadimplência. Conforme a entidade, houve alta de 3,5% no indicativo em abril deste ano frente o mesmo intervalo do exercício passado e, no acumulado dos quatro primeiros meses, a elevação chega a 2,24%.

 

"São os primeiros aumentos após dois anos consecutivos de queda, o que pode ser encarado como um sinal de alerta. Já recomendamos aos nossos mais de 800 mil associados que tenham mais cautela na concessão de crédito, oferecendo apenas os valores que o cliente e empresário poderão arcar. Pior que não vender é vender e não receber", alerta o superintendente da entidade, André Luiz Pellizzaro.

 


Sem preocupação - O presidente da Associação dos Lojistas de Shoppings Centers de Minas Gerais (Aloshopping-MG), Marcelo Henrique de Almeida, afirma que, embora a queda de movimento já tenha sido detectada nos estabelecimentos do Estado, a diminuição não será suficiente para causar preocupação ao setor.

 

"Nestes dois trimestres, deve haver um crescimento de cerca de 7% a 8%, e estávamos trabalhando com uma previsão inicial de 10%. Mas o número ainda é satisfatório. Uma elevação de menos de 4% começaria a gerar apreensão. No entanto, o cenário não aponta para uma queda deste porte no consumo", diz Almeida.

 

Conforme o especialista da FGV/IBS, os empresários do segmento não têm motivos para preocupação, já que a desaceleração do consumo no mercado interno estava dentro dos planos do governo. "As ações foram calculadas, previstas e não vão trazer prejuízos ao setor. Trata-se de um ajuste entre oferta e demanda e o objetivo do governo é manter este equilíbrio", esclarece.

 

O otimismo em relação ao mercado interno brasileiro também foi observado internacionalmente. Ontem, a consultoria norte-americana A.T. Kearny anunciou que, conforme a pesquisa elaborada pela empresa, o varejo brasileiro desbancou China e Índia e lidera o ranking dos países em desenvolvimento com maior potencial para atrair investimentos estrangeiros no setor. Os motivos, segundo o relatório, são o aumento da renda da população e a formação de uma grande classe média.

 


Veículo: Diário do Comércio - MG


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