Inflação perde ritmo, mas alimento sobe

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IPCA, o índice oficial, desacelera de 0,77% em abril para 0,47% em maio, mas a taxa acumulada em 12 meses sobe para 6,55%, acima da meta

 

Dois índices de preços divulgados ontem apontaram perda de ritmo da inflação em maio. A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mostrou forte desaceleração, de 0,77% para 0,47%. Já o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou leve alta, de 0,01%, reduzindo o ritmo de meses anteriores.

 

O mercado considerou previsíveis os resultados e aposta em freio ainda maior da inflação em junho e julho. Mas as previsões permanecem de elevação de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic) hoje, ao fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

 

O desempenho do IPCA em maio foi influenciado principalmente pelos custos com os combustíveis, que ficaram mais baratos para o consumidor. Mas os preços dos alimentos surpreenderam e voltaram a subir, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Alguns núcleos do IPCA - que excluem as maiores influências e são indicadores de tendência - mostraram força, deixando os analistas em alerta.

 

"O núcleo é uma visão mais pura do indicador. Três deles vieram acima das expectativas, mas a perspectiva para os próximos meses é bastante favorável e eles devem arrefecer", afirmou Inês Filipa, economista-chefe da corretora Icap Brasil.

 

O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, espera pelo menos mais duas altas na Selic, apesar de estimar um IPCA por volta de 0,05% em junho, puxado ainda por quedas nos preços dos combustíveis e dos alimentos. Segundo ele, o IGP-DI, divulgado também ontem pela Fundação Getúlio Vargas, confirmou a perda de ritmo da inflação.

 

"O IGP-DI já mostra uma forte queda nos preços de produtos agrícolas para o atacado", lembrou Cunha. "E junho não tem nenhum aumento relevante de preços administrados."

 

O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Antonio Henrique Pinheiro Silveira, avaliou que o IPCA caminha para uma posição mais próxima ao centro da meta prevista pelo governo (4,5%). "Com os índices recentes, em 2011 a inflação deve ficar entre 5% e 6%, bem próxima ao centro da meta, e não do teto de 6,5%", afirmou o secretário.

 

A opinião não é compartilhada pelo ex-diretor do Banco Central e sócio do fundo Tandem Global Partners, Paulo Vieira da Cunha. Ele chama a atenção para o acumulado em 12 meses (6,55%) continuar estourando o teto da meta e adverte que, ante a elevação prevista para os juros na reunião de hoje e na próxima, a inflação pode ficar "desancorada".

 

"A inflação em 12 meses vai permanecer elevada. Inflação rodando a quase 7% é inaceitável dentro do regime de metas", afirmou.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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