O endividamento recorde do consumidor brasileiro nos últimos meses - impulsionado pela ampla oferta de crédito em 2009 e 2010 - e a alta das taxas de juros se refletem diretamente nos índices de inadimplência, que chegaram a 6,4% na carteira de pessoa física em maio, segundo o Banco Central. Para especialistas, a consequência é vista na redução dos empréstimos, com avaliação mais criteriosa por parte dos bancos. Mas as altas recentes já eram esperadas e estão abaixo do índice máximo registrado.
De acordo com estudo da LCA Consultores, o endividamento das famílias em cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, consignado, de automóveis e imobiliário corresponde a 40% do total anual de rendimentos e benefícios pela Previdência Social, consequência da ampla oferta de crédito.
Segundo boletim de operações de crédito do BC, o saldo das operações alcançou R$ 1,804 bilhões em maio, aumento de 1,6% no mês e 5,8% no ano. Os empréstimos com recursos livres totalizaram R$ 1,180 bilhões, expansão de 1,6% em maio e 5,7% no ano. Já o crédito direcionado chegou a R$ 624,9 bilhões, avanço de 1,6% no mês e 6% no ano. A relação PIB/Crédito cresceu para 46,9%.
O índice de inadimplência do crédito referencial, que corresponde a atrasos superiores a 90 dias em carteira de pessoa física e de jurídica, chegou a 5,1% em maio, acréscimo de 0,2 ponto percentual ante o mês anterior e a maior alta desde maio de 2010.
No consumo, a elevação foi de 0,3 p.p, para 6,4%. "Isso já era esperado, porque havia sido identificada maior negativação com as instituições financeiras. O salto em maio foi forte. Nos meses anteriores, observamos variações de 0,1 p.p. ou 0,2 p.p", esclareceu Luiz Rabi, gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian.
O especialista acrescentou que há duas causas para o aumento do calote: endividamento e desemprego. "Mesmo com o fim do período de recessão em 2010, os estímulos ao crédito continuaram e agora começam os efeitos colaterais. Mas a inadimplência poderia ser pior se tivéssemos desemprego elevado. Segundo o IBGE, o mercado está bom, o que segura a inadimplência." Para Rabi, a projeção para o final de 2011 fica entre 6,5% e 7%, índice inferior ao recorde histórico registrado em 2008 e 2009, de 8,5%. Já o chefe de Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, afirmou que o aumento esperado era maior em razão da elevação das taxas de juros e inflação, o que eleva o comprometimento da renda. "A tendência desse movimento é de acomodação da taxa de inadimplência, porque temos expansão da economia, da renda e do emprego." Maciel concordou em que, pelo histórico do BC, as taxas estão em um patamar normal. O principal item influenciador, na opinião de José Carlos Luxo, professor do laboratório de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), é a alta taxa de juros. "Toda vez que há necessidade de diminuição do crescimento econômico, o governo eleva os juros e retém moeda, o que ocasiona aumento da inadimplência. Mas essa alta já era esperada e se mantém em níveis razoáveis." Segundo o professor, a expectativa é de mais uma elevação da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 12,25% ao ano. Contudo, o fato não deve trazer grande impacto à inadimplência, uma vez que a economia deve continuar a crescer.
Segundo o boletim do BC, a taxa de aplicação anual de juros para pessoa física chegou a 46,8% em maio, mesmo percentual de abril. No segmento cheque especial, a taxa atingiu 185,4%, acréscimo de 7,3% ante o mês anterior, que foi de 178,1%.
Veículo: DCI