A deflação de 0,21% na primeira prévia de julho do Índice de Preços Geral-Mercado (IGP-M) foi puxada, como nas medições anteriores, pela queda nos produtos agropecuários que compõem o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), ainda que mais fraca do que a observada em junho. O movimento que surpreendeu analistas, no entanto, foi um recuo maior do que o esperado nos produtos industriais, que saíram de alta de 0,29% no primeiro decêndio de junho para retração de 0,07% na atual leitura.
Economistas destacam, porém, que a primeira prévia do mês não configura uma tendência para os próximos IGPs, já que a queda nos produtos industriais foi influenciada principalmente pela saída do impacto do minério de ferro, que teve recuo de 1,58%, diante de alta de 9,38% na primeira prévia de junho. O IPA registrou variação negativa de 0,36% na primeira medição de julho, menos acentuada do que a retração de 0,53% no mesmo período de junho. Os produtos agropecuários apuraram deflação de 1,17%, ante recuo de 2,78% na leitura anterior.
Para o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas, Salomão Quadros, a tendência para os preços no atacado é uma diminuição na intensidade de suas deflações até voltarem ao terreno positivo, o que pode acontecer já neste mês. "Se não houver uma virada forte do IPA em julho, isso pode acontecer no começo de agosto. Não há razão para que o IPA permaneça tanto tempo em uma zona de deflação", avalia.
Quadros sustenta que não haverá uma alta generalizada de preços industriais e agrícolas, mas que os combustíveis vão ditar esse processo de aceleração, ao lado de algumas matérias-primas agrícolas e de produtos industriais como fertilizantes e derivados da petroquímica. "Num período de mais algumas semanas, o IPA comandará o restante dos IGPs. Mas isso vem naturalmente, não vejo nenhum processo descontrolado."
Thiago Curado, da Tendências Consultoria, , conta que não só os preços industriais tiveram um recuo maior do que o esperado nesta leitura do IGP-M, mas que os produtos agrícolas continuaram caindo com força, cenário não previsto e que reforça perspectivas de deflação nos IGPs de julho. "Já estávamos com um cenário otimista para o IGP-M e talvez os preços industriais ainda surpreendam. Caso isso aconteça, podemos ter um mês de deflação forte", diz o analista, que projeta queda de 0,05% para o indicador no fim do mês.
Curado ressalta, contudo, que o movimento dos produtos industriais na primeira prévia dificilmente se repetirá nos IGPs fechados. "Podemos ter contribuição com essa desaceleração dos preços industriais, mas o que justifica a queda nos IGPs continua sendo os preços agrícolas. Os preços industriais não têm fôlego para fechar julho em terreno negativo."
Sobre os preços no varejo, o economista acredita que a deflação de 0,2% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) "ficou em junho", pois as coletas de preços da Tendências já captam uma alta dos combustíveis e o fim de pressões baixistas nos alimentos. Quadros, da FGV, discorda: para ele, o IPC ainda permanecerá no campo negativo ao longo de julho devido à contribuição dos alimentos, a menos que haja um problema climático. "No IPA vemos quedas em várias cadeias alimentares, então isso dará ao IPC um período maior de permanência em taxa negativa, mas menos forte do que a atual".
No IPC, cinco das sete classes de despesa componentes do índice registraram deflação. A principal contribuição para o recuo foi o grupo alimentação, que passou de queda de 0,82% para retração de 1,09%. Na outra direção, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou alta de 0,66%. Na medição anterior, havia subido 2,97%.
Veículo: Valor Econômico