Está ficando mais caro usar o cheque especial. Tanto que essa modalidade de crédito foi a que mais encareceu entre junho e julho (2,10%). Agora, atinge 8,27% ao mês - maior valor desde fevereiro de 2005 - e 159,48% ao ano, segundo dados da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, divulgados ontem. Das seis linhas de crédito analisadas pela Anefac, cinco tiveram elevações nessa comparação, com exceção à taxa do cartão de crédito. O crescimento dos juros médio ao consumidor foi de 0,04 ponto percentual nesse período, e soma 6,84% ao mês.
Taxas mais salgadas nas linhas de crédito são consequências naturais do pacote adotado pelo governo desde dezembro para reduzir demanda e inflação. Entre elas, os bancos tiveram menos dinheiro para oferecer nos financiamentos, houve alta do Índice sobre Operações Financeiras para operações de crédito de 1,5% ao ano para 3% ao ano, além de sucessivas altas na Selic (taxa básica de juros, hoje em 12,5% ao ano, cerca de 16,2% maior do que há sete meses).
Financiar no cartão de crédito continua sendo opção mais pesada: cobra-se 10,69% ao mês e, no ano, soma 238,3%, embora os percentuais não se alterem desde junho de 2010.
No mês passado, cinco das seis linhas de crédito acompanhadas pela pesquisa (empréstimo pessoal de bancos, financeiras, crédito direto ao consumidor, cartão de crédito e juros do comércio) tinham taxas mais altas do que as praticadas em julho, exceto cheque especial, que de lá para cá ficou 0,8 ponto percentual maior.
Para se ter ideia, usar o cheque especial no valor hipotético de R$ 345, há 12 meses, quando a alíquota era de 7,47% ao mês, para quitar em três meses, custaria no fim R$ 397,77 - caso esse percentual ficasse mantido por todo o período de pagamento. Nas mesmas condições, o cliente pagaria hoje R$ 403,56 aos bancos.
Carro orçado em R$ 26 mil, financiado por crédito direto ao consumidor durante cinco anos, em banco, terminaria a preço de R$ 47.853, caso os juros desse empréstimo (2,37% em julho) fosse hipoteticamente o mesmo nesse prazo (veja a arte ao lado). No crédito mais caro, comprar uma geladeira por R$ 3.000 à taxa fixa mensal do cartão de crédito em 10,69% resultaria em valor adicional de R$ 1.935,72 após um ano pagando.
Em cenário de juros caros, a dica do professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras Eduardo Vieira Paiva para quem precisa recorrer a empréstimos é optar pelo CDC, mais em conta (2,4%). "Porém, considerando uma inflação em torno de 0,5% ao mês, é um valor muito alto", diz ele, acrescentando que o consumidor deve evitar compras por impulso. O coordenador da pesquisa Miguel Ribeiro Lima afirma que cautela é necessária porque, no mês, o aumento equivale a centavos; o cliente só irá sentir o impacto ao quitar o financiamento.
Juros aos empresários aumentam 2,27%
O cenário de preços para as linhas de crédito aos empresários também foi de sabor mais amargo durante o mês passado. Isso porque todas as linhas de financiamento tiveram suas alíquotas encarecidas no período em relação a junho. A taxa de juros média geral às empresas teve elevação de 0,09 ponto percentual em julho, representando incremento de 2,27% em 30 dias. Os dados são da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, divulgados ontem.
Tanto quanto ocorre com os consumidores, as medidas de contenção e encarecimento do crédito são os pilares que impulsionaram os juros ao setor para cima.
Em um ano, o crescimento atingiu 1,66 ponto percentual. Alta que significa 2,80% mais juros em 12 meses, passando de 3,96% ao mês (e de 59,37% ao ano) em junho para 4,05% nos 30 dias seguintes (somando 61,03% ao ano). A Anefac afirma que é o maior valor calculado de taxas desde outubro de 2009.
Durante o período de elevação da Selic, acumulada em 16,28% desde o fim do ano passado, atingindo 12,5% ao ano, a taxa média dos juros para as empresas apresentou elevação de 4,58 pontos percentuais (ou 8,11%). Passou de 56,45% ao ano em dezembro para 61,03% ao ano no mês passado.
Dentre as três linhas de empréstimos às empresas que a Anefac pesquisou, todas apresentaram aumento dos juros em comparação com dezembro. Taxas da conta garantida (linha em que o banco paga os débitos da empresa, mesmo que ela esteja sem saldo) lideraram o ranking de aumentos, com 14,59% em sete meses. Para o capital de giro, o único a recuar nessa análise, o resultado ficou praticamente estável, em -0,17% de dezembro a julho.
Veículo: Diário do Grande ABC - SP