A expectativa de baixo crescimento da indústria nacional não causa preocupação apenas pela queda de faturamento das grandes empresas. Embora tenham participação inferior a 20% na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do País, as micro e pequenas indústrias também sofrem com a atual conjuntura econômica brasileira.
De acordo com estimativas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em São Paulo, cairá o número de novas indústrias até 2015. Na comparação percentual ante empresas voltadas para comércio e serviços, até a metade desta década, apenas 9% das micro e pequenas empresas (MPEs) serão do segundo setor. A partir do ano 2000, o número destas companhias não chegará a dobrar em 15 anos, enquanto as comerciais e de serviços quase que triplicarão. De acordo com especialistas da área, o panorama para 2020 é ainda pior.
Segundo Pedro Gonçalves, consultor do Sebrae, o crescimento real do faturamento, descontada a inflação, das MPEs no primeiro semestre cresceu 4%. No desmembramento por setor de atividade, o de serviços cresceu 10,5% e de comércio 4%. Apenas a indústria registrou retração, com queda de 1,4%. Segundo o consultor, o cenário atual é favorável para o terceiro setor.
"Atualmente, serviços tem grande desempenho, principalmente para restaurantes, educação e serviços pessoais. O comércio também entra na onda do aumento de renda. Já a indústria sofre por depender de crédito para produção", explica Gonçalves.
O consultor explica que três fatores contribuem para a expansão do terceiro setor. "Primeiro, o aumento de renda baseado na evolução da economia nacional. A partir disso, aumenta a oportunidade de consumo em serviços e comércio. E também há um processo de terceirização no Brasil", afirma o economista do Sebrae.
Segundo Alessandro Basile, sócio-diretor da Agmkt, especializada em consultoria para MPEs, há um processo de sucateamento na indústria nacional. "Inovação é mais fácil na área de serviços. A indústria está com falta de investimentos. Com a concorrência de importados e impostos altos, as empresas fazem produtos commodities, sem diferenciação", diz.
Para o diretor da Agmkt, é muito difícil para novas empresas competirem no segundo setor. "Há uma concorrência brutal. Desenvolver novos produtos envolve custos muito altos. A maior parte das companhias entram em uma vala comum. Muitas não têm competitividade antes mesmo de abrir as portas", comenta.
Ambos consultores concordam que programas governamentais podem ajudar industriais a se fortalecerem. "Isso já é chavão, mas continuo dizendo que é preciso uma reforma tributária eficiente. Além de um processo de desburocratização para facilitar a administração das empresas", explica Basile.
Gonçalves afirma que outras políticas públicas também podem favorecer o setor. "A regulamentação da lei geral das MPEs pelos municípios ajudariam no crescimento dessas empresas. Facilitar o acesso ao microcrédito também", diz o consultor.
O acesso ao crédito é um dos principais problemas enfrentados pelos donos de empresas industriais. Com um cenário econômico desfavorável à oferta de crédito, as companhias são as primeiras a serem cortadas das carteiras dos bancos. Para Basile, a dificuldade em conseguir financiamento criou métodos ilegais para contornar a situação.
"Muitos empresários se financiam sonegando impostos. Após muito tempo, entram em acordo com a Receita Federal e quitam suas dívidas. Isso virou prática no mercado", conta. Porém, a nova prática se torna uma bola de neve nas contas fiscais das empresas. "Com o nome sujo, não conseguem crédito algum nos bancos. E com as regulamentações do BNDES, o financiamento público não é uma alternativa", diz.
Em novembro, o Sebrae divulgará novas projeções para 2020. Segundo Basile, a distância entre segundo e terceiro setores nas MPEs continuará a crescer. "As iniciativas para abrir empresas industriais são poucas. Não há mais espaço para elas. Talvez, se trabalharem com alta tecnologia, telecomunicação, cosméticos. Mas a concorrência já é grande nestas áreas também", comenta.
Veículo: DCI