Autoridade monetária ofereceu US$ 5,5 bilhões no mercado futuro, ontem, para segurar a valorização da moeda
O Banco Central surpreendeu ontem o mercado e mostrou que entrou na briga para tentar evitar desequilíbrios com o dólar. Ontem, ofereceu US$ 5,5 bilhões às instituições financeiras no mercado futuro, na primeira venda desse tipo em mais de dois anos. A operação aconteceu logo no início da manhã, quando o dólar ficou a poucos centavos de R$ 2. A oferta só amenizou o nervosismo dos investidores, já que a divisa fechou em alta.
O Banco Central promete continuar e até ampliar a atuação com a possibilidade de vender dólares no mercado à vista.
Pela primeira vez desde 26 de junho de 2009, o Banco Central voltou a ser vendedor no mercado de dólares. A operação aconteceu com a emissão de contratos de swap cambial, instrumento largamente usado na crise financeira de 2008 e que serve como uma proteção às variações da moeda norte-americana no mercado futuro.
Apesar do expressivo volume ofertado pelo BC, bancos compraram cerca de metade dos contratos e o montante financeiro somou US$ 2,71 bilhões.
"Entramos porque avaliamos que a liquidez do mercado não era adequada. O BC vai continuar no mercado futuro enquanto entender que é necessário", disse o diretor de política monetária, Aldo Luiz Mendes, após o dia turbulento.
A decisão de intervir aconteceu logo no início dos negócios, quando a ausência de vendedores e a abundância de interessados no dólar levaram as cotações para perto de R$ 2. Minutos antes do anúncio do leilão, as cotações no mercado à vista atingiram a máxima de R$ 1,9520, com forte alta de 5,8%.
Por enquanto, explica Mendes, o BC não encontrou problemas nos negócios com o dólar físico, no mercado à vista. "Não identificamos liquidez apertada nesse mercado. Mas, se encontrarmos, também podemos agir", disse.
Na crise passada, o Banco Central agiu fortemente nesse segmento com venda direta ou empréstimo de dólares ao sistema financeiro como maneira de resolver o problema de desequilíbrio entre compradores e vendedores.
Reação de mercado. A operação foi bem recebida no mercado. Nas mesas de compra e venda de dólar, prevaleceu o entendimento de que o BC está atento e não vai permitir que movimentos especulativos atrapalhem o rumo dos negócios.
Na quarta-feira, por exemplo, muitos analistas financeiros citaram que o dólar subiu a partir do meio da tarde com pouquíssimos negócios. Ou seja, a alta foi determinada por poucos agentes financeiros, o que não reflete necessariamente um movimento de mercado.
"O leilão conseguiu trazer um pouco de racionalidade aos negócios. Esse recado de que o BC pode voltar a qualquer momento aos negócios é bom porque diminui o espaço para os especuladores", diz o gerente de câmbio da Souza Barros Corretora, Luiz Antônio Abdo. Para ele, o BC foi "técnico" ao entrar em um período da manhã em que "praticamente não existiam vendedores" no mercado futuro.
Veículo: O Estado de S.Paulo