As expectativas de longo prazo para a inflação estão piorando mais cedo. Entre 2006 e 2010, segundo levantamento da equipe econômica do Itaú Unibanco com base nas pesquisas do Banco Central, as estimativas feitas para dois anos a frente eram mais consensuais e a mediana sempre ficava próxima de 4,5%, centro da meta de inflação que o Brasil persegue desde 2005. Para 2013, no entanto, já está na conta dos economistas que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passe longe desse patamar e fique em 5%.
As projeções para o ano seguinte já vêm se deteriorando desde 2010. O Itaú observa em relatório que, de 2006 a 2009, as previsões de IPCA para o próximo ano giravam em torno de 4,5%, com exceção de 2008, quando era esperada inflação de 5% para o ano seguinte. Já em março do ano passado, nota a instituição, as expectativas para 2011 se aproximavam de 5% e, agora, consideram que o teto da meta (6,5%) será atingido. Para 2012, já se espera IPCA de 5,5%. Há um ano, a estimativa era de 4,6%.
Como os agentes têm poucas informações sobre a conjuntura econômica em um horizonte de dois anos, é normal que projetem o centro da meta num prazo mais longo em função do compromisso do BC com o regime de metas. Neste ano, no entanto, a redução da Selic em meio ponto percentual, para 12% ao ano, jogou areia nessa suposição e contratou mais inflação para o futuro, explicam analistas consultados pelo Valor.
"Esse movimento é bastante grave, porque reflete a falta de credibilidade do regime de metas", afirma Thiago Curado, da Tendências Consultoria Integrada. Para ele, não há chance de a convergência ser alcançada durante o governo Dilma, porque a reversão do ciclo de aperto da taxa básica de juros mostra que esse não é mais o objetivo perseguido pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O economista também destaca que a própria inércia inflacionária provoca revisões mais pessimistas para o longo prazo. Se, para 2011, a Tendências acredita que o IPCA encerre o ano em 6,6%, o estouro da meta já carrega mais inflação para 2012, e assim por diante.
Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, caso a crise externa, que está no radar do BC, acabe acontecendo, isso não significará que a autoridade monetária acertou, já que um quadro deflacionário no Brasil, em sua opinião, está totalmente descartado. "Uma crise mais profunda faria pela inflação no máximo o que fez em 2008: trazê-la para a meta."
Além do aparente descompromisso do BC, o analista ressalta que 2013 e 2014 ainda terão inflação forte, porque tudo indica que as políticas monetária e fiscal responderão com mais força do que em 2008, se houver uma recessão global. O economista lembra também que vários componentes do IPCA - sendo o principal deles os serviços, que giram na casa dos 9% em 12 meses - não têm perspectiva de desaceleração. "Na época da crise, caíram apenas cerca de um ponto percentual", diz. Assim, ficaria apenas para 2015 um possível ajuste do aumento dos preços.
Veículo: Valor Econômico