Mesmo com a pequena reversão do valor do dólar registrada no início do dia, quando a moeda norte-americana atingiu o valor de R$ 1,87, apresentando queda de 1,45% em relação ao valor da véspera, a cotação ainda é uma ameaça aos preços dos alimentos e, conseqüentemente, à possibilidade de cumprimento da meta da inflação deste ano, disse na sexta-feira o economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz.
"A taxa de câmbio subiu rapidamente nos últimos dias. Em relação a julho, já acumula alta perto de 20%. Esse aumento pode ter um efeito na inflação. Para este ano, a expectativa do mercado já girava um pouco acima do teto da meta. Se o câmbio permanecer no patamar de R$ 1,80 a R$ 1,90, de fato, piora um pouco a expectativa de inflação para este ano e facilita o não cumprimento do teto da meta em 2011. O que era uma ameaça, agora fica mais difícil com o câmbio nesse patamar", avaliou Braz.
A meta da inflação, estabelecida pelo governo, é 4,5%, podendo alcançar dois pontos percentuais a mais. Segundo o economista, as commodities internacionais, como trigo e soja, são os itens que ameaçam a curva de queda de preços que os alimentos vêm trilhando nas últimas semanas e gerando um impacto significativo nos índices de inflação.
No caso do trigo, por exemplo, o mercado brasileiro, que não tem autossuficiência do produto, já vivia a ameaça de uma alta por quebra da safra americana, que encareceria o produto no mercado internacional. A alta do dólar pode comprometer ainda mais o valor do produto e, conseqüentemente, de derivados, como itens consumidos diariamente pelos brasileiros, entre eles o pão francês, o macarrão, a farinha de trigo, o biscoito e o bolo. No caso da soja, o aumento de preços pode atingir derivados como a margarina e o óleo.
De acordo com Braz, o consumidor pode começar a sentir os efeitos dessa pressão nos preços ainda no final de outubro. "A gente assistiu aumentos (do preço) do arroz, do açúcar, da carne, por efeitos que não tinham relação com o câmbio. No futuro, a gente pode ter uma nova onda de aumentos conduzida por commodities que têm influencia cambial. Alguns produtos vão ficar com influência menor e outros com influência maior e, aí, vai ficar claro o efeito do câmbio sobre a inflação", estimou. (ABr)
Veículo: Diário do Comércio - MG