Economistas acreditam que desaceleração do ritmo de atividade respalda decisão do Copom por mais uma redução na taxa Selic para reanimar a economia
Antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que termina amanhã, os economistas não consideram que os técnicos do BC tenham uma difícil tarefa pela frente. Isto é, cortar juros para reanimar a economia sob o risco de dar mais combustível para aumento de preços, mesmo considerando que a inflação não esteja morta.
A rápida desaceleração do ritmo de atividade, captada pelo próprio índice do BC, o IBC-Br, espécie de indicador antecedente do Produto Interno Bruto (PIB), que fechou o terceiro trimestre com queda de 0,3% ante o trimestre anterior, já descontadas as influências sazonais, dá respaldo para que o Copom reduza em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros, de acordo com a maioria dos analistas de mercado. Hoje, os juros básicos estão em 11,5% ao ano.
"A batalha da inflação está mais ou menos ganha para 2012", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Segundo ele, o cenário atual é mais confortável para o corte de juros, do ponto de vista da inflação, olhando para o movimento dos preços na margem, mesmo com o reajuste do mínimo de 14,3% para 2012 e da resistência dos preços dos serviços.
Para sustentar esse argumento, ele diz que a inflação neste mês e no próximo deve girar em torno de 0,5%. Essa estimativa indica uma variação anual entre 4,5% e 5,0% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Borges considera que a própria desaceleração do ritmo de atividade deve segurar a inflação. "O BC está olhando para o cenário da economia para frente, não para a inflação corrente, que indica um IPCA de 6,5% neste ano."
Além disso, ele considera que a nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que vai balizar o cálculo do IPCA a partir de janeiro, deve reduzir entre 0,2 e 0,3 ponto porcentual a inflação para o ano que vem, que ele projeta em 5,2%. Segundo o último Boletim Focus, do BC, divulgado ontem, o mercado espera alta de 5,56% para o IPCA em 2012.
Conflito. Para a economista Zeina Latif, o velho conflito entre inflação e crescimento na hora de optar pelo corte na taxa de juros não é válido para o quadro atual da economia brasileira. "De fato, fomos surpreendidos pela crise e o cenário vai piorar daqui para frente", alerta a economista. Segundo ela, o fraco desempenho do terceiro e do quarto trimestres deste ano e do primeiro trimestre do ano que vem já está dado.
Há uma piora da confiança do empresário, choque de investimento e diminuição da atividade da indústria, que já afetam a produção de veículos, observa. Esse quadro de forte desaceleração da atividade deve moderar os aumentos de preços, prevê. "Por isso, o BC pode cortar lentamente os juros para garantir a inflação na meta."
Já para o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira, a situação atual do BC nesta reunião do Copom é "mais delicada". "O grande desafio hoje é calibrar juros para ter crescimento de 3% em 2012, com inflação de 4,8%." Nesse sentido, ele avalia que seria necessário um corte maior de juros, de 0,75 ponto porcentual, para não afetar o ritmo de atividade no segundo semestre de 2012.
Apesar da forte desaceleração, Silveira destaca alguns riscos inflacionários para o ano que vem, como os contratos indexados ao IGP-M, como os aluguéis. Outro risco de pressão inflacionária pode ocorrer com os alimentos, cujos preços são formados no mercado internacional. Se a alta do dólar persistir, o impacto nos preços em reais pode ocorrer no primeiro trimestre de 2012.
Veículo: O Estado de S.Paulo