Analistas criticam mudança silenciosa do IPCA e preveem inflação menor

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IBGE não divulgou a mudança no cálculo do indicador com aviso prévio; aposta para inflação em 2012 já é 0,3 ponto porcentual menor


A reação imediata do mercado de juros futuros - quando algumas corretoras tomaram conhecimento, na segunda-feira, ainda com a Bolsa de Valores em operação, das mudanças na metodologia de cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - provocou ontem uma saraivada de críticas de analistas ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O IBGE divulgou a mudança do peso de determinados itens sem aviso prévio, o que pode ter beneficiado agentes que perceberam antes a nota técnica, divulgada no site da instituição. Economistas de instituições financeiras revisaram para baixo a inflação prevista para 2012 em cerca de 0,3 ponto porcentual. "Na verdade, quando saiu isso (mudança de pesos), o IBGE não anunciou. Deixou bem escondidinho no site. Então, aquele que foi sagaz conseguiu pegar primeiro e fazer a sua movimentação no mercado de juros", lamentou a economista-chefe da corretora Icap Brasil, Inês Filipa.

A Icap reviu sua projeção para o IPCA de 5,43% para 5,19% em 2012, um corte de 0,24 ponto porcentual. "É bem significativo se você refaz a conta e acha uma revisão de 0,50 ponto ou 0,35 ponto. É bastante importante para a inflação no ano que vem", ressaltou Inês.

Na avaliação do economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, a reação imediata do mercado futuro à divulgação dos novos pesos do IPCA é comum, mas a curva de juros tende a ser corrigida após a divulgação da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central sobre a nova taxa básica de juros, a Selic. No entanto, o economista acha que o IBGE deveria ter mais cuidado com a publicação de dados.

"É uma informação que tem de ser tratada com mais rigor", afirmou Combat. "É um assunto a ser investigado. Eu não sei a quem competiria essa investigação, mas não deveria ser conduzida internamente, para dar credibilidade. Se, a todo momento, você tem essas pequenas falhas, pode colocar a credibilidade do instituto em jogo."

A Concórdia reduziu em 0,3 ponto porcentual sua projeção para o IPCA em 2012, que passou de 5,5% para 5,2% após a divulgação dos novos pesos na inflação.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, acredita que profissionais que possam estar atentos para falhas na divulgação de indicadores do IBGE podem se beneficiar dessas informações. "Eu acho que é bem ruim essa deterioração da qualidade do IBGE com relação às publicações", lamentou a economista da Tendências, que calculou um impacto de -0,35 ponto porcentual no IPCA em 2012, após a revisão. A Tendências, que já previa uma influência negativa de 0,20 ponto na inflação com a nova metodologia, reduziu de 5,60% para 5,45% a projeção para o IPCA no ano que vem.

Já para o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), há um exagero em torno da importância da mudança na metodologia do IPCA.

"O impacto dessa mudança é tão pequeno e transitório, que não acho que seja suficiente para gerar ganhos, benefícios, e mexer tanto com o mercado financeiro. O mercado financeiro tem de sair um pouco dessa histeria do curto prazo e começar a olhar mais os fundamentos macroeconômicos", opinou Langoni.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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