Apesar da cautela, empresas estão otimistas

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A crise internacional não tirou o otimismo das empresas no Brasil. Mesmo cautelosas, elas traçam seus planos dentro de diversos cenários e prevêem crescimento para 2012. Este era o clima ontem entre as 31 premiadas na nona edição do Prêmio DCI às Empresas Mais Admiradas em 2011.

A Natura trabalha em cima de dois cenários, um mais conservador e o outro mais agressivo, de acordo com o diretor de unidade de negócios São Paulo, Marcus Rissel. "Já fizemos investimentos que vão nos preparar para estas duas situações nas áreas de tecnologia e em um centro logístico, o que nos permite acelerar se for preciso, ou controlar", explica o executivo, acrescentando que a meta da companhia é crescer.

O diretor-geral de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios do Departamento de Fertilizantes da Vale, Felipe Klemperer, afirmou que a empresa estima que receita do ano que vem será igual à deste ano. "Não registramos nenhum impacto da crise, por enquanto. Mas nenhum país está imune à turbulência global. Até a China pode sofrer algum arrefecimento, mas deve ser pequeno, não deve afetar os nossos negócios", diz. Mesmo assim, a companhia já traçou planos de contingência, reduzindo investimentos, conforme anúncio em Nova York.

O diretor de Finanças e Relações com Investidores da Alpargatas, José Roberto Lettieri, afirma que 2011 registrou um processo inflacionário e com isso houve aumento de custos. "Mas apesar disso, não sentimos impacto forte da crise, até porque nos sustentamos nas diversas marcas com as quais trabalhamos", disse. No último trimestre, a empresa registrou crescimento de 18,5% em relação ao ano de 2010, considerado um ano forte. "Estamos otimistas para com o ano de 2012 e nossa expectativa é de que os negócios sejam bons; não haverá excesso de estoques."

A AmBev espera seguir a mesma tendência deste ano. "Estamos otimistas em relação ao ano que vem e trabalhamos com todos os cenários possíveis. No entanto, tivemos um 2011 muito bom, todas as metas foram cumpridas. Realizamos um dos nossos maiores capex, de R$ 2,5 bilhões. As inaugurações estão a todo vapor, inclusive neste mês", diz o diretor de Relações Corporativas da AmBev, Rodrigo Moccia.

A expectativa da Ultragaz para o próximo ano é manter o crescimento de 4%, mesmo patamar já verificado até o último trimestre deste ano. De acordo com seu diretor de Desenvolvimento, Aurélio Antônio Ferreira, a empresa crê na manutenção da expansão dos negócios mesmo com a volatilidade recente do dólar, moeda na qual está precificada sua principal matéria-prima, o gás LP (mais conhecido como gás de cozinha). De acordo com ele, a produção de petróleo e gás no Brasil tende a aumentar com a Petrobras e a elevação da capacidade de refino no País, que colocará mais produto no mercado.

No segmento das telecomunicações, a operadora de telefonia móvel TIM (Telecom Italia) segue otimista com relação ao mercado de 2012, e os números obtidos neste ano pela companhia presidida por Luca Luciani embasam suas projeções. Até o fim do terceiro trimestre a tele superou as rivais e foi a única a conquistar market share. A boa performance pode ser justificada pela estratégia de ampliar o mercado para as classes C, D e E, setor da economia que foi decisivo para o resultado. Com as novas adições, a TIM subiu de 25,14% para 26,04%, superando a rival Claro, que teve queda de 25,44% para 25,30%, segundo Karla Garcia, gerente de Marketing da TIM.

Por outro lado, a agência de publicidade DPZ acredita que há cautela por parte de seus clientes, que estão revendo planos para 2012. Ivan Ryzovas, diretor de Negócios e Tecnologia e Mídia da agência, existe muito receio por parte da indústria com relação à economia, e isso acaba interferindo no volume de anúncios futuros. "Existem duas correntes: uma pensa que a crise vai chegar e estas companhias vão reduzir investimentos; a outra também mantém a cautela, mas não vai rever metas de maneira tão drástica a ponto de reduzir participação na mídia", diz.

Nos setores da saúde e da educação, os quais passaram por forte onda de fusões e aquisições em 2011, as projeções também são otimistas, mas a aposta é de crescimento mais modesto. "As universidades que tinham potencial de negócio já foram compradas. Será difícil manter o ritmo no ano que vem porque muitas instituições estão revendo suas metas e organizando seu caixa depois da grande onda de aquisições", conta Paulo Henrique Sampaio Amaral, gerente de Marketing da Fundação Getulio Vargas (FGV). "O mercado já está consolidado e muitos hospitais estão querendo manter a estratégia de aquisições, mas o setor espera fazer isso de maneira estruturada. A demanda está aquecida porque já são muitos os brasileiros que têm plano de saúde", explica Cláudia Garcia de Barros, diretora-executiva dos setores assistencial, de qualidade e segurança do Hospital Albert Einstein.

A classe média e as obras para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 devem continuar a injetar dinheiro na economia, garantindo crescimento em 2012, segundo Wagner Pinheiro, presidente dos Correios. Nos planos de investimentos da empresa nos próximos 4 anos, devem ser aplicados R$ 4 bilhões na expansão de operações. "Só em 2012 aportaremos perto de R$ 800 milhões, em especial na construção de novos centros de distribuição."

O diretor-superintendente da Odebrecht Infraestrutura, Valter Lana, também se mostra otimista com 2012. "Acabamos de fechar um empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, no valor de US$ 430 milhões para a construção de nosso terminal no Porto de Santos, o Embraport. Ele já começa a operar no final de 2012. Acreditamos que cresceremos entre 20% e 30% no próximo ano". Mas e a crise econômica mundial? "Ela está na Europa e nos EUA, não aqui. As demandas por infraestrutura no Brasil ainda são muito grandes."

Crédito, por sinal, é algo com que Felipe Boni, gerente de Comunicação Corporativa da rede hoteleira Accor, não está preocupado. "As incorporadoras com quem construímos nossos hotéis, nos reportam que não estão tendo maiores dificuldades para obter financiamento."

Crédito também é a única preocupação do grupo Mapfre Seguros. Mesmo assim, a empresa, que atua forte no segmento de automóveis, espera crescer 6%, conforme o vice-presidente da unidade Automóvel, Jabis de Mendonça Alexandre. O diretor São Paulo da Multiplan, Antônio Sérgio Bianco, diz que a meta da companhia será continuar buscando novos empreendimentos na área de shopping centers e na área imobiliária, em qualquer cenário.

Veículo: DCI


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