A nova realidade social brasileira será um grande desafio pelos próximos dez anos para as micro e pequenas empresas existentes no País. De acordo com o presidente do Sebrae Nacional, Luiz Barreto, ao mesmo tempo em que o surgimento da nova classe média pode ser bom para essas companhias, ela cria maior necessidade de agregar valor ao produto ou serviço oferecido. "Nossa agenda para a próxima década vai estar voltada para isso", disse.
Durante o primeiro dia do Seminário Internacional sobre Pequenos Negócios, realizado pelo Sebrae, em São Paulo, o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto mostrou dados que confirmam essa nova realidade social. Em 2008, a distribuição de renda no País era mais concentrada na classe A e B (51%), seguida pela C (34%) e pelas D e E (15%). "Hoje, 54% está na C; 24%, na A e B; e 22% nas D e E", apontou. "Isso mostra que avançamos na direção do que prevê a Constituição Federal de 1988", acrescenta.
O Nobel de Economia, Paul Krugman, também presente no evento, comentou que essa ascensão da classe média é uma ótima oportunidade para o País. "Enquanto nos Estados Unidos, a classe média está diminuindo, no Brasil está crescendo", analisou Krugman.
Apesar de ser um desafio menor, Barreto também comenta que a valorização cambial é um obstáculo no dia a dia das micro e pequenas empresas. "Elas dependem menos de exportação, mas quando ocorre a apreciação da nossa moeda, as MPEs são as que mais sofrem". E, segundo o Nobel de Economia, o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil tende a continuar forte.
"Com a crise nos países desenvolvidos, os investimentos são direcionados do [Hemisfério] Norte para o Sul. E o Brasil se tornou bastante atrativo neste cenário. Os investidores estão adorando vocês. Antes era Espanha, Portugal e até a Grécia, agora é o Brasil", disse o Nobel. Para o presidente do Sebrae, essa situação cria uma nova agenda de apoio ao micro e pequeno empresários na próxima década.
De modo geral, Delfim Netto destacou a importância das MPEs e disse que desde 1972 quando foi criado o Sebrae, essa relevância foi observada. Pelos dados da entidade, essas empresas respondem por 99% das pessoas jurídicas no Brasil, o que significa mais de seis milhões de companhias, além disso, é responsável por 62% da geração de empregos, e representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB).
De acordo com ele, um maior desenvolvimento ao micro e pequeno empresário deve vir do maior acesso ao crédito, o que, atualmente, não atende a todas essas empresas. Porém, esse cenário de queda das taxas de juros de bancos públicos pode contribuir para elevar esse alcance. "Banco estatais [como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal] são exemplos de como o sistema financeiro pode operar e entender o empreendedor brasileiro", entende. "É no fundo de quintal que as coisas importantes acontecem. As grandes inovações estão na pequena empresa. Por isso, merece toda a atenção do governo".
"A inclusão social que está aí. A senhora que era empregada doméstica, hoje é manicure. A manicure está no call center, a do call center está no supermercado, a do supermercado é gerente de uma loja de departamentos . A primeira usava sabão de coco. Hoje usa Dove". Para o ex-ministro, esse é um dos motivos para não aumentar a taxa de juros.
Sistema tributário
Especificamente para micro e pequenas empresas, as mudanças do regime de tributação Simples Nacional foi elogiada durante o evento. "Possibilitou a entrada de mais empresas no Simples. Daqui dez anos, vamos precisar lidar com 10 milhões de clientes", disse Barreto, ao se referir à previsão para quanto deve subir o número de micro e pequenos no País.
No entanto, Delfim Netto afirmou que o sistema tributário brasileiro é um "manicômio a céu aberto" e que precisa ser alterado. Questionado a razão para que uma reforma tributária não seja feita, o ex-ministro colocou a culpa nos eleitores. "A pessoa fica brava por acordar em um domingo, enquanto podia ir para a praia. Pega um papel com número do candidato na rua e vota nele. Quem os elege são vocês", disse ao se dirigir ao público presente no seminário.
Krugman rebateu a afirmação do ex-ministro dizendo que a população "também tem vida própria" e não possui uma visão política como ele mesmo ou Delfim Netto. "Nos Estados Unidos, há uma manifestação que pede o surgimento de líderes para alertar as pessoas de quem se deve votar. Isso é algo a ser feito", conclui.
PIB
Em entrevista coletiva, realizada antes do inicio do evento, o ex-ministro afirmou ainda acreditar que o PIB deste ano crescerá entre 3,6% e 3,7%. Ele prevê que o nível de atividade deve pegar tração nos próximos meses a ponto de levar a economia para um patamar de expansão de 4% no quarto trimestre ante o mesmo período de 2011. "Mas o PIB será aquilo que construirmos durante 2012, a questão está aberta."
Veículo: DCI