Comércio com a China tem menor avanço em cinco anos

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Relacionamento comercial no primeiro trimestre foi marcado pelo ritmo da gradual desaceleração da China, principal parceiro comercial do Brasil

Sem soja, exportação para China cai 6%

Nos três primeiros meses do ano, as exportações brasileiras para a China desaceleraram. Elas somaram US$ 7,9 bilhões, representando um aumento de 10,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse foi o menor crescimento dos últimos anos.

O aumento de 10% foi garantido principalmente pela exportação da soja, que cresceu 127%, impulsionada por uma antecipação de compras do grão. Sem esse produto, as vendas do Brasil para a China teriam caído 6% no período. Minério de ferro e petróleo, que somados responderam por mais da metade de tudo o que foi vendido aos asiáticos no ano passado, tiveram queda nas vendas e puxaram o resultado para baixo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Os três produtos - soja, minério e petróleo - responderam no ano passado por 80% da exportação brasileira para a China, sendo, portanto, fundamentais para indicar o rumo do comércio entre os dois países.

Produto mais procurado pelos chineses, as vendas de minério de ferro cresceram 5% em volume no período, mas a queda do preço no mercado internacional fez a commodity render 12% a menos de divisas do que no primeiro trimestre do ano passado, com as vendas totais chegando a US$ 3,3 bilhões. O preço do petróleo ficou em patamar semelhante ao de 2011, mas a desaceleração do apetite chinês pelo produto fez o volume cair 32%, o que diminuiu em 17% as exportações em dólares, que somaram US$ 1 bilhão, segundo estudo elaborado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) com base nos dados do Mdic.

Para André Soares, coordenador e analista de pesquisas do Conselho, a queda das exportações brasileiras de minério de ferro e petróleo respondeu ao movimento de desaceleração da China que, de acordo com a estimativa oficial, espera crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano ante 9,2% de 2011. "Os dois casos foram acentuados, mas acompanharam a demanda total de certa forma. Em toneladas, as importações chinesas de minério no trimestre cresceram 6%, enquanto em dólares elas caíram 8%. No petróleo, a diminuição foi de 10% em peso e de 23% em dólares", diz ele.

Apesar de o volume crescer, a tendência é que as vendas de minério de ferro rendam menos aos exportadores neste ano, segundo o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) José Augusto de Castro. Em março do ano passado, o Brasil vendeu a tonelada do produto a US$ 116. Doze meses depois, a US$ 100. "A média em 2011 ficou em US$ 128, com picos de US$ 136. Mantendo o patamar atual, vai haver um impacto grande na balança até o fim do ano, pois o minério é o produto mais vendido aos chineses", diz.

O substancial aumento da soja, que registrou US$ 2 bilhões em vendas, deu-se em virtude da intensificação das exportações desde o fim do ano passado em função dos preços favoráveis do produto, de acordo com Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. "Entre janeiro e fevereiro, exportamos US$ 640 milhões. Nos mesmos meses do ano passado, as vendas foram de US$ 53 milhões. Houve um esforço na exportação dos estoques do mercado brasileiro por causa da relativa escassez do produto no mercado mundial."

As importações vindas da China, por outro lado, cresceram mais do que as exportações - 13,8%, refletindo na balança comercial entre os dois países. No primeiro trimestre do ano passado, o déficit no comércio com os chineses foi de US$ 51 milhões. Em função do crescimento maior das compras brasileiras, capitaneadas por máquinas, instrumentos e aparelhos eletrônicos, o saldo negativo pulou para US$ 292 milhões no primeiro trimestre de 2012.

O déficit, no entanto, poderia ter sido maior, já que as compras de carros chineses caíram para menos de US$ 4 milhões no trimestre. Em volume, vieram 834 carros de janeiro a março deste ano, situação que está relacionada à forte importação do último trimestre do ano passado, quando as importações somaram 200 milhões e corresponderam a entrada de 31,4 mil automóveis. O movimento foi uma reação ao aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre o produto que passou a valer no fim de dezembro.

O resultado dos três primeiros meses no comércio entre Brasil e China acompanha a previsão para o ano. "Prevê-se desaceleração na produção deles de veículos e linha branca, gerando uma demanda menor por aço e energia que vai acabar impactando o preço das commodities exportadas pelo Brasil", diz Silveira, que manteve a previsão de superávit de US$ 20 bilhões para a balança comercial do Brasil em 2012. "No fim do ano passado já prevíamos crescimento menor das vendas à China."

A AEB também manteve a previsão feita em dezembro e vai esperar para refazer seus cálculos. "Trabalhamos com um superávit de US$ 3 bilhões. Com base na conjuntura atual eu o aumentaria para cerca de US$ 8 bilhões, mas o cenário pode mudar até julho, quando será feita a revisão", diz Castro


Veículo: Valor Econômico


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