O crescimento aquém do esperado nas vendas do comércio varejista entre março e abril fez com que alguns economistas já avaliem revisar as projeções para a expansão da economia neste ano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que as vendas do varejo restrito (que exclui automóveis e materiais de construção) aumentaram 0,8% em abril, na comparação com março, feitos ajustes sazonais. O desempenho ficou abaixo da média das projeções de 11 instituições consultadas pelo Valor Data, que apontava alta de 1,6% no período.
No varejo ampliado (que inclui veículos e materiais de construção), o avanço entre março e abril foi de 0,7%, descontados os efeitos sazonais - metade da alta de 1,4% estimada pela Link Investimentos. "Esses números colocam uma perspectiva de PIB mais fraco no segundo trimestre, porque o consumo, que é um dos pilares de sustentação do indicador, não reagiu como esperávamos", diz o economista Thiago Carlos, que projetava aumento de 2,2% nas vendas do varejo restrito em abril, na comparação com o mês anterior. Por ora, prevê expansão de 0,8% na economia entre o primeiro e o segundo trimestres e de 2% em 2012, mas ressalta que poderá revisar esses dados para baixo.
Os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de abril, afirma Pedro Paulo Silveira, da TOV Corretora, reforçam a expectativa de um crescimento econômico franzino em 2012. "O mercado vai reduzir ainda mais suas projeções. Pelos meus cálculos, o PIB não vai crescer mais que 1,7% neste ano." A mediana das projeções dos economistas consultados pelo Banco Central para o Boletim Focus aponta aumento de 2,53% no PIB em 2012.
Embora ainda considere cedo para alterar sua estimativa de crescimento para a economia neste ano, o Santander reduziu de 0,4% para 0,3% a previsão de alta no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em abril, após verificar os resultados da PMC. O indicador, que será divulgado hoje, é considerado uma prévia do desempenho do PIB. Ajustes também foram feitos nas previsões de IBC-Br de outras quatro instituições consultadas pelo Valor Data.
A economista Fernanda Consorte, do Santander, observa que o maior descompasso entre a projeção de alta de 1,9% para as vendas do varejo restrito entre março e abril e a expansão de 0,8% constatada no período se deu no setor de supermercados. A expectativa era de resultado positivo, mas as vendas do setor caíram 0,8%, já descontados efeitos sazonais, na terceira contração mensal consecutiva. "O descasamento se deu por efeito calendário. No ano passado, as vendas de Páscoa ficaram concentradas em abril e, neste ano, foram diluídas em março e abril."
A contração nas vendas dos supermercados também surpreendeu Paulo Neves, da LCA Consultores. Para ele, o desempenho em abril reflete um ajuste após a mudança de metodologia da PMC, feita em janeiro. Naquele mês, as vendas dessazonalizadas dos supermercados apresentaram salto de 8,5% frente a dezembro de 2011.
"As vendas nos supermercados devem voltar a crescer em maio, com a dissipação desse efeito gerado pela mudança da metodologia", diz Neves, que previa aumento de 1,7% no varejo. Segundo ele, o resultado abaixo das expectativas não influencia as projeções de expansão do PIB, que permanecem em 2,2% em 2012 e 0,7% entre o primeiro e o segundo trimestres.
Veículo: Valor Econômico