Varejo recua em maio e reforça sinais de desaceleração

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A queda de 0,7% no volume de vendas no varejo ampliado em maio na comparação com abril, na série com ajustes sazonais da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada ontem, surpreendeu os especialistas, que viram no resultado um reflexo da desaceleração da atividade econômica deste ano e uma confirmação de que o segundo trimestre foi fraco. A contração também se estendeu ao varejo restrito (sem automóveis e materiais de construção), que encolheu 0,7% na mesma comparação.

Na visão de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o resultado de maio afirma a desaceleração no comércio, que já vem acontecendo nos últimos meses. Na média móvel trimestral, o varejo restrito ficou "zerado" em maio em relação ao trimestre encerrado em abril. "Em janeiro, o crescimento acumulado estava em 1,6%. Depois disso só caiu, chegando agora a zero. Não quer dizer que ele vá para o negativo nos próximos meses, mas também não vai aumentar meio por cento como vínhamos acompanhando", disse.

Após a divulgação da pesquisa pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Gonçalves revisou o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio. Se antes da PMC a previsão de queda para o índice era de 0,4%, agora é de recuo de 0,6% "Há desaceleração, e isso está mais claro. Não dá para prever o futuro, vai depender dos efeitos das políticas do governo mais para frente, mas a tendência está mais para queda do que estabilidade na projeção do ano do varejo", disse.

O resultado de maio surpreendeu o mercado, que esperava, na média, uma alta para o comércio, previsão influenciada também por abril, quando as vendas apresentaram alta de 0,7% Segundo o instituto, a retração de maio é a mais intensa desde novembro de 2008, quando houve queda de 1,3%. No acumulado do ano, as vendas do varejo restrito subiram 9%.

Dois setores do varejo restrito explicam o mau desempenho de maio. Super e hipermercados, que fazem parte de um segmento que também conta com produtos alimentícios, bebidas e fumo, tiveram queda de 0,2% no mês. Já móveis e eletrodomésticos apresentaram retração de 3,1% ante abril. Somados, os dois itens possuem peso de cerca de 65% na composição do índice total, segundo Thiago Carlos, da Link Investimentos. "Estávamos esperando alta nos dois segmentos, que tiveram resultado muito diferente da tendência dos meses anteriores", afirmou.

Os dados de venda de automóveis, no entanto, dão uma perspectiva mais otimista para junho. Em maio, o setor, que faz parte do varejo amplo, subiu 1,5%. Além disso, o mês seguinte virá com a isenção de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) "cheia", pois a medida entrou em vigor no último terço de maio. Para o economista-chefe da BB-DTVM, Marcelo Arnosti, maio não deve ser visto de forma isolada para traçar o panorama para os próximos meses, com dois fatores tendo que ser levados em conta: os índices dos meses anteriores e os fundamentos do varejo.

No primeiro, Arnosti ressalta que de janeiro a abril o crescimento no acumulado foi de quase 4%. "Isso se junta ao fato de que a renda real do trabalhador está em expansão, a confiança do consumidor, apesar de ter caído um pouco, continua em um patamar historicamente elevado e a política monetária é expancionista", disse.

Aurélio Bicalho, economista do Itaú BBA, também afirma que os fundamentos determinantes do consumo, principalmente o mercado de trabalho, não mudaram de tendência e junho deve mostrar reversão do resultado negativo do varejo, especialmente no conceito ampliado, por causa da redução do IPI para compra de automóveis.

Ainda assim, apesar das expectativas mais favoráveis para o último mês do trimestre, o fraco desempenho do comércio em maio aumenta as chances de um crescimento um pouco menor da economia brasileira no segundo trimestre, segundo Bicalho, pois o ponto de partida deve ser mais baixo. O economista prefere esperar dados de atividade em junho para decidir se vai ou não alterar a projeção de crescimento de 0,6% do PIB entre o primeiro e o segundo trimestres, mas a surpresa negativa com o varejo levou o banco a reduziu a projeção para o IBC-Br de queda de 0,3% para recuo de 0,5% entre abril e maio, feitos os ajustes sazonais.

A média das projeções coletadas pelo Valor Data com 10 instituições mostra que a queda do indicador, que procura reproduzir o comportamento da atividade econômica brasileira, deve ter sido de 0,5% em maio, com intervalo entre as projeções de menos 0,9% até menos 0,2%. Já considerando o Itaú, das seis instituições consultadas pelo Valor Data que haviam divulgado suas projeções antes do resultado da PMC, quatro elevaram a expectativa de queda do IBC-Br em maio, após o dado do IBGE.


Veículo: Valor Econômico


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