Crescimento da economia será zero no 4º- trimestre, prevê Fiesp

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A economia deve registrar crescimento zero no último trimestre de 2008 e as condições de mercado atuais indicam que este cenário não deverá se alterar nos primeiros meses de 2009, na avaliação de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Apesar de vários setores ainda apresentarem bom desempenho no final do ano, a perspectiva é de ajustes de produção e de redução de empregos. Os cortes poderão ocorrer com maior intensidade no retorno dos trabalhadores das folgas e férias coletivas.

 

Skaf preferiu evitar fazer projeções para a expansão da economia em 2009. Há estudos internos na Fiesp que indicam crescimento entre 2% e 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mas o presidente da entidade recomendou cautela. Skaf considera que é "possível" que ocorra uma recessão mas acha difícil definir o alcance da crise e assumir as estimativas. "Há muitas indefinições e muitos fatores que podem alterar as previsões", afirma Skaf.

 

A Fiesp pretende estruturar uma proposta para encaminhar ao governo com o objetivo de liberar os recursos do compulsório para o mercado. "Ninguém pode obrigar um banco a emprestar", afirma Skaf. A alternativa seria fazer com que as instituições deixem de represar os recursos e passassem a financiar obras públicas. O governo financiaria os impostos das empresas, garantindo a maior liquidez do mercado. "Esta é uma idéia que pretendemos desenvolver em conjunto com o governo", assinala.

 

As medidas para restaurar a liquidez do mercado e suportar a demanda foram tímidas e chegaram com atraso, segundo Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Fiesp e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). "A taxa de juros deveria ter baixado no mês passado", comentou. Esta medida adiaria por um mês o impacto da crise que parou a indústria em novembro. Steinbruch acredita que os bancos não conseguirão reter os recursos do compulsório por muito tempo e devem gradativamente retomar os empréstimos. "A falta de remuneração vai forçar os bancos a emprestar", afirma.

 

Steinbruch assinala que os balanços de todas as empresas, com raras exceções, fecharão com lucro. Isto ocorrerá na área industrial e no setor financeiro. A CSN, por exemplo, deverá registrar um crescimento de 20% em 2008 em comparação com o resultado do ano passado. Os cortes de mão-de-obra e a redução da atividade devem-se à necessidade das empresas se preparar para um primeiro trimestre fraco.

 

Os efeitos das demissões na produção ocorrem em um período de 60 a 90 dias. As empresas, assinala Steinbruch, tem de renegociar contratos de energia, administrar estoques de matéria prima, serviços de terceirizados. Na CSN, as decisões foram adiadas para janeiro. "Estamos consumindo a matéria-prima que temos em casa para chegar a janeiro sem estoques e a partir daí ver o que vamos fazer", disse. O nível de produção permanecerá normal até o retorno das férias. A partir deste momento, a CSN definirá o ritmo de atividade para 2009.

 

A crise alcançou o País com atraso de seis meses. Esta defasagem pode permitir uma reação no segundo trimestre do próximo ano, se houver sinal de recuperação no início do ano. "Se houver um começo de recuperação no exterior no primeiro trimestre, isto vai fazer com que o impacto da crise seja menos forte no mercado interno." Para Steinbruch, a alta nos preços da sucata nos Estados Unidos e a evolução favorável no mercado chinês apontam uma melhora no quadro. "Se esta tendência for mantida, a vida no Brasil será mais fácil e as medidas menos drásticas."

 

Para o Skaf, a proteção do mercado interno é um fator importante neste período. O presidente da Fiesp defende a adoção de medidas "preventivas" para evitar a invasão de produtos importados no País, decorrente da redução de demanda nos Estados Unidos e Europa. "Temos de deixar nosso arsenal de defesa comercial pronto de forma preventiva", afirmou Skaf. Em uma situação de emergência, estas ferramentas poderiam ser acionadas rapidamente para impedir práticas "desleais" de mercado e "dumping".

 

Vários setores ainda não sentiram a crise. "Em outubro a venda em supermercados foi recorde", disse Skaf. A turbulência econômica afetou inicialmente os segmentos sensíveis a crédito, como as montadoras e as industrias de eletrodomésticos. Na sua opinião, o risco maior é entrar na rota do desemprego. "Hoje a regra é ganhar tempo para enxergar melhor até onde vai esta situação", afirmou.

 

As condições favoráveis de câmbio melhoram a competitividade das exportações brasileiras. Apesar desta guinada nas cotações do dólar, o saldo da balança comercial de US$ 24 bilhões previsto para 2008 não se repetirá no ano que vem. "Com os maiores mercado do mundo em recessão, é difícil prever aumentos de exportação", disse Thomaz Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), da Fiesp.

 

A pauta de exportações é composta principalmente por commodities e estes produtos foram os que mais perderam preço nos últimos meses. A volatilidade cambial também é outro fator que interfere no desempenho das vendas externas. O crescimento da China está sendo projetado para baixo no mercado. Algumas estimativas apontam uma expansão de 5,5% em 2009. Nível considerado reduzido para os padrões do país asiático. "O governo chinês vai desenvolver um programa de incentivo mas não é fácil implementar um plano desses", comenta o diretor da Fiesp, que prevê "um primeiro trimestre difícil".

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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