O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se reunir amanhã com 17 empresários - entre os mais representativos do país em diversos setores - para discutir os efeitos da crise econômica no Brasil, ouvir a avaliação que fazem do momento e reforçar o pedido para que acreditem no país e confiem nas medidas adotadas até agora pelo governo para diminuir os efeitos da crise sobre a economia do país. O encontro deve ser realizado no Palácio do Planalto.
A idéia surgiu na manhã de segunda-feira, na reunião da coordenação política. Logo depois de debater os problemas ocasionados pelas enchentes em Santa Catarina, Lula teve uma conversa com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com presidentes dos bancos públicos federais. Ficou acertado que caberia a Mantega e ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, convidar os empresários. A lista é sigilosa, mas deve incluir representantes dos bancos, da construção civil, do setor siderúrgico, automotivo e do setor varejista. Um dos convidados foi Jorge Gerdau Johannpeter, do Grupo Gerdau, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial.
O presidente quer ouvir diretamente dos empresários qual o efeito da crise internacional na economia real. Os grandes executivos estão reclamando que o dinheiro liberado pelo governo para o crédito não está chegando na ponta do sistema. Em artigo ontem na "Folha de S. Paulo", o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, chegou a sugerir a formação de um gabinete de crise, alegando ser bom para o país ter reservas internacionais de US$ 200 bilhões que o livrem do risco da falência, mas que os trabalhadores podem, sim quebrar, se forem demitidos.
Lula pedirá aos empresários que acreditem nos fundamentos da economia brasileira e apostem nas medidas que o governo tem tomado para minimizar os danos da turbulência internacional. Dirá que eles não devem ceder ao pessimismo, ao catastrofismo e ao pânico. Por mais de uma vez, o presidente tem dito que a "crise do pânico" é a pior de todas, pois leva as pessoas a evitar o consumo, o que provoca um círculo vicioso de desaceleração econômica, queda de produção e desemprego.
Desde o acirramento da crise, em setembro, o governo resolveu ligar a luz amarela porque, diariamente, chegam ao Palácio do Planalto relatos de que ela atingiu a economia real. Na semana passada, a Vale, uma das empresas símbolos do atual capitalismo brasileiro, demitiu 1,3 mil pessoas. O Planalto sabe que parte disso deve-se à diminuição do crescimento da China - um dos principais compradores do aço brasileiro. Também admite que não pode, "por decreto ou medida provisória", como disse a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, impedir que as empresas demitam funcionários para equilibrar suas contas. A única saída para evitar o desemprego é manter a economia aquecida. E, para isso, os empresários não podem pisar no freio neste fim de ano. "Se isso acontecer, aí sim, teremos problemas", admitiu um integrante do governo.
Ao mesmo tempo que procura medir a temperatura dos principais setores da economia, o governo prepara um pacote de medidas de incentivos fiscais para que as empresas não parem de produzir e o consumidor tenha mais dinheiro para comprar.
Ontem, Mantega levou a Lula um leque de alternativas que vai desde a redução do IOF para operações de crédito para determinados setores à liberação de mais compulsórios e redução temporária das alíquotas do Imposto de Renda da pessoa Física em 10%. Há, também, uma lista de setores que poderão ser beneficiados com diminuição da alíquota do IPI.
O problema é que todas essas medidas têm impacto sobre a arrecadação federal e isso tem de ser muito bem pesado neste momento, quando a redução do nível de atividade econômica tenderá a reduzir as receitas do setor público.
A reunião entre o presidente Lula e Mantega ocorreu ontem à noite. Se o presidente aprovar as medidas sugeridas pelo ministro da Fazenda, elas poderão ser anunciadas de imediato.
Veículo: Valor Econômico