O consumo das famílias subiu pela vigésima vez seguida no terceiro trimestre e atingiu nível igual ao maior já registrado na série do IBGE, de 7,3%, fortalecido pela massa salarial em alta e pelo crédito. "A massa salarial aumentou e afeta diretamente o consumo das famílias. Isso afeta o desempenho do PIB porque o consumo das famílias corresponde a pouco mais de 60% do PIB", disse a gerente das Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.
Na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor, esse consumo deve sustentar o PIB de 2009. Se os investimentos devem diminuir sensivelmente pelo menos até o fim do primeiro semestre, o consumo de bens não duráveis e semi-duráveis, como alimentos, vestuário e remédios, ditará o crescimento da economia, ainda que em ritmo menor que o de 2008.
As projeções para a alta do PIB ano que vem giram em torno de 2% a 3%. "O que vai segurar a economia em 2009 serão os bens básicos", disse o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Os bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, devem ter queda de vendas por conta do receio do consumidor de se endividar sem ter segurança da manutenção do emprego, avalia Vale.
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, lembra que a massa salarial continuará reforçada pelo aumento real do salário mínimo no ano que vem, indexado ao PIB de 2007, de 5,7%. O mercado de trabalho, ainda que piore, não deve cortar vagas e sim reduzir o nível de contratações visto em 2007 e 2008. "O consumo das famílias vai segurar a economia e o reajuste do salário vai ser muito importante, principalmente no Norte e no Nordeste. E ainda tem as aposentadorias do INSS atreladas ao reajuste do salário mínimo. 2009 vai ser o ano do consumo básico, de bens essenciais e de mais baratos", avalia.
O consumo do governo, que no terceiro trimestre acelerou-se para uma taxa de 6,4%, também deve contribuir de forma significativa para a manutenção do crescimento da economia em 2009, de acordo com os economistas da MB e da LCA. Sérgio Vale projeta para o próximo ano uma expansão de 4% do consumo, superior à sua expectativa para o PIB, de 2,8%. Para Bráulio Borges, o resultado do terceiro trimestre surpreendeu. "No primeiro trimestre se imaginava que o crescimento forte era por causa do calendário eleitoral, que impedia o comprometimento do Orçamento após o meio do ano. Mas as despesas de Estados e municípios seguiu acelerada e há sinais de que o governo continuará ajudando a aumentar a demanda agregada", avaliou. Conforme o IBGE, o desempenho no trimestre passado foi influenciado também pelo aumento de obras públicas, entre as quais as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Do lado da oferta, a produção industrial se mantém como principal fonte de preocupação para o próximo ano. A MB estima para 2009 um crescimento da indústria de 2,4%, menos da metade da variação estimada para este ano (5,5%). Para o quarto trimestre deste ano, a produção industrial deve crescer 1,5% em comparação com igual intervalo de 2007; no terceiro trimestre, o aumento foi de 5,9%. "O crescimento com ajuste sazonal que foi de 0,8% no terceiro, vai se reverter em queda no quarto trimestre", disse Vale. A LCA projeta queda de 1% em relação ao terceiro trimestre, e aumento de 3% sobre o quarto trimestre do ano passado.
Outro setor que deve sentir de forma forte o efeito da crise é o setor extrativo mineral, por conta da redução no ritmo de extração de minério e petróleo pela Vale e a Petrobras, diz o economista-chefe da MB. Ele estima que no quarto trimestre o setor crescerá 2,2%, após 7,8% no terceiro trimestre. Para 2009 a projeção é de 2,5%, ante 4,8% no ano fechado de 2008.
A área de serviços de intermediação financeira, que no terceiro trimestre cresceu 8,8%, também deve registrar desaceleração considerável, para 1,8% no último trimestre, também sob efeito da crise externa. Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, prevê para o quarto trimestre um crescimento maior, de 5,7%. Ele ponderou que esse setor é influenciado pelo "momentum" e pode apresentar recuperação em 2009 com a retomada da concessão de financiamentos pelas instituições bancárias, caso os sinais de até onde a crise internacional pode chegar se tornem mais claros.
Veículo: Valor Econômico