Sondagem da FGV indica que os fabricantes de carros, eletrodomésticos e móveis começam a cortar produção até janeiro com mudança de cenário
A indústria já começou a colocar o pé no freio da produção, diante da perspectiva do fim do benefício do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros, geladeiras, fogões, lavadoras e móveis, a partir de 1º de janeiro do ano que vem.
Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que a produção prevista das fábricas para três meses, isto é, entre novembro e janeiro de 2013, caiu 3% em relação a outubro, descontado o comportamento típico da desse período, no qual embute algum arrefecimento.
Esse quesito foi responsável por mais da metade (54,9%) da queda do Índice de Confiança da Indústria (ICI) neste mês. Em novembro, o indicador de confiança teve retração de 0,8% ante outubro, descontadas as influências sazonais.
"Os empresários já estão antevendo a saída das medidas de incentivo ao consumo e há uma desaceleração implícita no resultado", afirma o superintendente adjunto de ciclos econômicos e responsável pela sondagem, Aloisio Campelo.
Neste mês, 8 de 14 gêneros industriais pesquisados pela FGV registraram queda no índice de confiança. A situação é exatamente oposta à de outubro, quando a confiança tinha crescido em 8 gêneros. Entre os gêneros que tiveram queda na confiança este mês estão alimentos; metalurgia; mecânica; material elétrico e de comunicação; material de transporte; mobiliário; celulose, papel e papelão; vestuário e calçados.
Campelo observa que há "algum espalhamento" entre os setores que planejam reduzir a produção prevista para três meses porque os bens duráveis, beneficiados pelo corte do IPI, têm conexões com outros setores. De outubro para novembro, houve um aumento na fatia de empresas que pretendem reduzir a produção, de 9,5% ,no mês passado, para 15,5%, este mês. Em contrapartida, a parcela de indústrias que planeja aumentar a produção passou de 40,3% para 42,4% em igual período. A pesquisa consultou 1.244 indústrias entre os dias 1º e 23 deste mês. Juntas, essas empresas faturam R$ 729,7 bilhões por ano.
Estoques. Outro dado da sondagem que reforça a interpretação de que a retração na produção prevista advém do fim do corte do IPI é que os estoques das fábricas, na média, estão praticamente ajustados. No entanto, Campelo pondera que há uma certa heterogeneidade entre os gêneros pesquisados.
As montadoras são um exemplo de setor que está com baixo estoque. A indústria têxtil está superestocada. Por setor, os fabricantes de bens de capital e de materiais de construção acumulam um volume excessivo de produtos nas fábricas, enquanto a indústria de bens duráveis, semiduráveis e de bens intermediários tem estoques normais.
Na análise de Campelo, o fato de a redução da produção prevista estar ocorrendo no momento em que os estoques estão, média equilibrados, tem um aspecto positivo porque, quando a atividade acelerar, a produção irá junto.
Seis meses. O economista da FGV não acredita que a queda na confiança, provocada principalmente pela retração na produção prevista, ameace a recuperação da indústria que está em curso. "Não há uma alteração de tendência", diz Campelo. Ele reforça essa avaliação citando como exemplo o fato de que, apesar da queda da produção prevista para três meses de outubro para novembro, o resultado deste mês coincide com o da média histórica dos últimos cinco anos.
O dado positivo da sondagem é que a perspectiva de negócios para seis meses, isto é, em abril do ano que vem é favorável. Em novembro, 52,3% das indústrias informaram que enxergam um cenário melhor para a sua atividade em seis meses, resultado bem superior ao de novembro do ano passado (38,9%) e maior do que o de outubro deste ano (50,2%). Já a fatia das indústrias que avaliam um piora para o cenário passou de 5,4% em outubro para 4,8% este mês. Em novembro de 2011 era de 4,6%.
Veículo: O Estado de S.Paulo