Os produtos industriais irão perder peso no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) a partir de 2013, enquanto a parte agropecuária que compõe o indicador calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) ganhará participação. O IPA responde por 60% dos Índices Gerais de Preços (IGPs) e passa por revisões metodológicas de três em três anos, com base em pesquisas anuais do IBGE para a indústria e para o setor agropecuário, assim como em dados das contas nacionais.
Influenciado pela indústria de transformação, cuja participação no índice do atacado recuou de 72,6% para 69,9%, o peso do IPA industrial diminuiu de 75,82% para 74,71%, enquanto o do IPA agropecuário subiu de 24,17% para 25,29%. Para a incorporação ao cálculo do IPA, esses percentuais serão atualizados pelas variações de preços obtidas da comparação entre a média do período de 2008 a 2010 e dezembro de 2012.
Em janeiro, explica Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, a base atual de preços, que se refere a 2005- 2007, será substituída. No período mais recente, nota Quadros, ramos de atividade ligados a commodities ganharam mais destaque na economia, enquanto a indústria perdeu relevância como fatia do Produto Interno Bruto (PIB). "A indústria tem crescido menos e passado por mais dificuldades. Com a competição internacional, o setor não tem como subir preços."
Dos 20 subgrupos de manufaturados pesquisados pela FGV, apenas seis tiveram participação aumentada no IPA, com destaque para veículos automotores, reboques, carrocerias e autopeças, cujo peso passou de 8,5% para 8,8%. "Quando esse setor teve problemas de mercado, o governo deu assistência, o que impediu grandes perdas. O aumento do crédito também se reflete em maior presença da indústria automobilística", diz Quadros.
Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos, observa que o subgrupo materiais e componentes para manufatura foi o que mais perdeu relevância dentro do IPA industrial, com peso reduzido de 23,8% para 20,5%, o que, em sua opinião, é reflexo da estagnação pela qual a indústria passa há dois anos, além do aumento da importação de insumos industriais, em detrimento da produção nacional.
Principal grupo no IPA industrial, produtos alimentícios e bebidas tiveram peso elevado de 14,4% para 15%, puxados pelo componente carnes, produtos de carne e pescados. Segundo o economista da FGV, a mudança se deve à consolidação do país como grande exportador de carne bovina, assim como o maior consumo interno do item.
O minério de ferro, produto que ganhou espaço na pauta de exportação brasileira e registrou expressiva alta de preços nos últimos anos, também passará a pesar mais no IPA em janeiro: a ponderação avançou de 2,5% para 3,8%, o que puxou para cima a fatia da indústria extrativa no índice, de 3,2% para 4,7%.
Assim como no caso da indústria extrativa, o aumento da participação do IPA agropecuário no índice geral também foi concentrado em apenas um item: a soja, commodity com maior peso individual na inflação do atacado, de 4,4%, ante 3,4% na ponderação anterior. "As lavouras na nossa agricultura são muito concentradas. A soja, sozinha, representa quase 20% da produção agropecuária do país", afirma Quadros.
Para Ramos, da Quest, a nova ponderação do IPA deixará a variação dos IGPs ainda mais atrelada ao mercado internacional, já que as commodities ganharam mais espaço no indicador. "O IPA vai responder ainda mais rápido às oscilações de matérias-primas", diz Ramos, que projeta alta na casa de 5% para os índices gerais de preços no próximo ano, tendo em vista a tranquilidade para produtos agrícolas, em linha com o cenário externo pouco promissor.
Mesmo trabalhando com queda de preços agropecuários em 2013, Fabio Romão, da LCA Consultores, elevou de 4,7% para 5,1% a estimativa para a alta do IGP-DI no ano que vem. Após recuo na casa de 15% do minério este ano, segundo as projeções da LCA, a expectativa da consultoria é que os preços acompanhem a recuperação da economia chinesa e subam, o que irá pressionar os IGPs, dado o aumento de peso desse item. Assim, estima Romão, o IPA industrial, embora com participação menor no índice cheio, irá avançar de 5% para 7,3% entre 2012 e 2013.
Myriã Blast, do Bradesco, manteve em 5% a previsão para o aumento dos IGPs em 2013. Segundo Myriã, uma revisão não foi necessária, porque as atualizações de pesos no IPA acabaram se compensando. A economista espera que os preços de minério aumentem no próximo ano, mas pondera que a alta não será explosiva, já que a atividade mundial se recupera lentamente. Do lado agrícola, o Bradesco projeta devolução da escalada observada em 2012, devido a perspectivas mais otimistas de safra para o ano que vem.
Veículo: Valor Econômico