Depois de meses de desânimo, empresários e associações industriais ouvidos pelo Valor começaram o ano com avaliações mais positivas sobre o ritmo de atividade. Os relatos são de aumento da produção e boas vendas em janeiro, o que foi interpretado como confirmação de que o baixo crescimento de 2012 ficou para trás e que 2013 será de recuperação, ainda que a base de comparação seja bastante baixa.
Medidas tomadas pelo governo ao longo do ano passado, como redução de juros e, principalmente, a desvalorização do real em relação ao dólar, parecem estar surtindo efeito e os estoques mais ajustados permitem retomada da produção. Há ainda o efeito esperado da redução dos juros para bens de capital no Programa de Sustentação do Investimento (PSI) - até dezembro era de 2,5% ao ano, e passou para 3% neste semestre.
Em ramos intermediários da indústria, a projeção de vendas mais modestas de veículos, com a recomposição gradual da alíquota de IPI, parece não ter abalado a confiança dos empresários. A partir da média diária de vendas internas de aço plano - 17,6 mil toneladas em janeiro -, o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, vê um início de ano mais forte que o usual, já que o comportamento normalmente observado no primeiro mês é mais fraco, com vendas por dia útil abaixo de 17 mil toneladas.
Loureiro não viu com surpresa o salto de 18% nas vendas em relação a dezembro, mas avalia a alta de 3,4% ante janeiro de 2012 como um bom desempenho. "Não há nada de brilhante, mas o sentimento é que o mercado está começando a crescer", diz o presidente do Inda, que espera continuidade do bom ritmo observado na abertura do ano em todo o primeiro trimestre.
Para 2013, a projeção da entidade é que as vendas domésticas avancem 6% frente a 2012 - muito acima do ano passado, quando o crescimento foi de apenas 1,5% -, com ganho de mercado dos importados e demanda maior do setor de bens de capital. A indústria automotiva, de acordo com Loureiro, também deve contribuir para o aumento das vendas, mesmo com a volta da alíquota do IPI.
No setor de alumínio, o principal termômetro do ritmo de atividade é o consumo de chapas, folhas e extrudados, que representam cerca de 65% do mercado. De acordo com Luis Carlos Loureiro Filho, coordenador de economia e estatística da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), a demanda por esses produtos em janeiro aumentou 5,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
"Estimamos que o mercado brasileiro crescerá entre 4% e 5% em 2013, e os números observados no mês de janeiro reforçam essa expectativa. Estamos mais otimistas", diz. O coordenador também espera que o setor consiga recuperar o espaço ganho pelo produto importado nos últimos anos, já que a desvalorização do real em relação ao dólar e a alta da tarifa de importação para alguns itens vão ajudar o setor a recuperar mercado doméstico.
Loureiro, da Abal, diz que será preciso aguardar os números para o primeiro trimestre para calibrar as projeções para o ano, mas acredita que o risco maior é de surpresa positiva. O coordenador observa que a construção civil dá sinais de retomada e a produção de caminhões e ônibus voltou a deslanchar. Em 2012, as vendas foram prejudicados por causa da transição para a nova tecnologia de emissões para os motores a diesel no país, conhecida como Euro 5.
É o que nota a MAN Latin America, que depois de amargar queda de 40% na produção de ônibus e caminhões em 2012, projeta crescer 20% em 2013. O presidente da montadora, Roberto Cortes, diz que o crescimento na produção da empresa ocorrerá devido à necessidade do mercado de renovar parte da frota e à baixa base de comparação de 2012.
Segundo Cortes, a produção de veículos pesados da MAN começou a se recuperar no último trimestre do ano passado, com a redução das taxas do PSI, pelo BNDES. A evolução, afirmou ele, segue neste início de ano. "O primeiro bimestre está ótimo em termos de produção, se comparado com o ano passado", disse. Apesar do crescimento projetado para este ano, Cortes disse que as vendas vão apenas alcançar o patamar de 2011, quando foram vendidas 61.968 unidades (ônibus e caminhões). No ano passado, foram 49.459 veículos, segundo dados do Relatório Nacional de Veículos Automotores (Renavam).
A Agrale, fabricante de chassis para ônibus de pequeno e médio porte, caminhões leves, utilitários e tratores, registrou expressiva alta de 126% no faturamento de janeiro ante igual mês do ano passado. O diretor-presidente Hugo Zattera reconhece que o índice foi um ponto "fora da curva", porque no início do ano passado o mercado parou devido à transição para o Euro 5.
Mesmo assim, o executivo acredita que a Agrale deve fechar 2013 com crescimento próximo aos 16,5% registrados no ano passado, quando a receita bruta alcançou R$ 1,075 bilhão, graças à recuperação das vendas no segundo semestre depois da queda acumulada de 12% na primeira parte do ano.
Segundo Zattera, as vendas de chassis da empresa cresceram 80,4% em janeiro sobre igual mês de 2012, para 635 unidades. Na linha de tratores o volume aumentou 46%, para 165 máquinas. "Janeiro foi bem e já estamos com carteira consistente de pedidos, que garante 40% do faturamento previsto para o ano", revela o executivo. Esse nível de encomendas, diz ele, é "muito maior" do que o observado no início de 2012.
Para fevereiro, a Agrale espera alta de mais 20% no faturamento ante o mesmo mês do ano passado. Segundo Zattera, o forte desempenho no início de ano deve-se ao fim dos estoques das indústrias do setor.
Ainda no segmento intermediário, a Sondagem de Conjuntura da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) também mostrou cenário mais positivo em janeiro. A porcentagem de empresas associadas que relataram alta das vendas e encomendas em relação ao mesmo mês do ano anterior passou para 56% em janeiro, ante 44% em dezembro.
A sondagem mostrou que os estoques estão bem mais ajustados e, com isso, cresce o número de empresas que esperam avanço das vendas neste ano. Em setembro do ano passado, eram 70% dos associados, parcela que subiu para 79% em janeiro. "As expectativas são de que este ano será melhor que o passado e o otimismo aumentou, porque o resultado das vendas em janeiro foi positiva", afirma o presidente da Abinee, Humberto Barbato. Para ele, a queda de juros e o câmbio mais desvalorizado estão contribuindo para esse cenário.
Para máquinas e equipamentos, as estimativas ainda são modestas. Mario Bernardini, assessor econômico da Abimaq, entidade que reúne as fabricantes do setor, estima queda de 3% da produção em janeiro em relação a dezembro. "Essa queda é característica sazonal do setor, mas caiu muito menos do que em anos anteriores, o que pode indicar melhora no faturamento da indústria", afirma.
A principal contribuição para essa perspectiva mais favorável é dada pelas aprovações de financiamento pelo BNDES dentro do PSI. As máquinas sob encomenda, no entanto, ainda não reagiram. Os pedidos em carteira estão minguando, mas a aposta do setor é que os investimentos em infraestrutura deslanchem ao longo de 2013, o que permitiria crescimento da ordem de 6% do faturamento neste ano.
Veículo: Valor Econômico