Ministério da Fazenda e Banco Central dizem que a inflação não deve convergir este ano para o centro da meta, de 4,5%
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, disse ontem que não é factível esperar que a inflação convirja para o centro da meta de 4,5% neste ano, indicando ainda que a autoridade monetária vê um câmbio menos volátil. A visão do BC foi corroborada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse ontem ver a inflação fechando o ano em torno de 5,5%.
"Com as informações de que dispomos hoje, não é realista imaginar convergência (da inflação) em 2013", disse Mantega, acrescentando que a inflação vai resistir no primeiro semestre e recuar no segundo.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 0,86% em janeiro, maior variação desde abril de 2005, acumulando alta de 6,15% em 12 meses. A meta de inflação deste ano é de 4,5%, com margem de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
O diretor, durante a apresentação do Boletim Regional do BC, reforçou as últimas declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, de que a atual política continua válida, mas os ciclos monetários não foram abolidos e, se necessário, a política monetária poderá ser ajustada. "Ele (Tombini) falou que não há risco de descontrole da inflação, portanto vale a mensagem. Ele falou que neste momento a estratégia da política monetária está mantida e que não foram abolidos os ciclos monetários."
Na mesma linha, Mantega disse em teleconferência com jornalistas e analistas que a "situação inflacionária está sob controle".
As preocupações com a inflação levaram o mercado de juros a prever um aumento da taxa Selic já neste primeiro semestre, depois de ter recuado no ano passado para a mínima histórica de 7,25% ao ano.
Carlos Hamilton citou os preços dos alimentos, as possíveis altas dos preços administrados e a pressão do reajuste de 9% no salário mínimo como fatores que devem manter a inflação em alta no primeiro semestre. Por outro lado, argumentou que, nas contas da autoridade monetária para a inflação neste ano, o cenário incorpora o mercado de câmbio menos volátil.
"Temos dito que, no nosso horizonte de projeção para a inflação, vemos um câmbio menos volátil que no passado recente." Segundo o diretor do BC, a maior parte de variações cambiais é incorporada aos preços em um intervalo de 12 meses.
Investimento. O investimento no País continua mostrando desempenho insatisfatório, conforme análise do diretor, impedindo a economia brasileira de apresentar taxas de crescimento mais robustas. "Talvez o único segmento da demanda que tem mostrado fragilidade é o investimento, pegando o consumo do governo, das famílias e exportações."
A dificuldade de reação do investimento é um dos motivos do baixo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012. E, mesmo com a série de estímulos adotados no ano passado, nos bastidores do governo a avaliação é que também nos primeiros trimestres de 2013 esse indicador não apresentará bom desempenho, devendo mostrar reação mais positiva somente no fim do ano, após reação nos demais setores e início dos efeitos dos programas de concessão.
Os dados sobre o PIB de 2012 serão apresentados em 1o de março. Na quarta-feira, o BC divulgou que a variação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) - tido como um sinalizador do PIB - ficou em 0,26% em dezembro ante novembro.
A alta ficou abaixo do esperado, reforçando as possibilidades de que a economia não tenha superado 1% no ano passado.
O BC mantém a indicação de expansão mais modesta para o crédito neste ano, em 14%, prevendo ainda que o nível de calotes diminuirá. "A inadimplência está em nível elevado, mas trabalhamos com perspectiva de que ela recue", comentou. Em dezembro, no último dado disponível, a inadimplência ficou em 5,8%.
Veículo: O Estado de S.Paulo