Uma das executivas mais poderosas do mundo diz que a fração feminina na economia igualará a China e a Índia
Vice-presidente de políticas públicas da Ernst & Young diz que empresas perdem se não atenderem público feminino
A americana Beth Brooke, uma das cem mulheres mais poderosas do mundo, acredita que consumidoras, empreendedoras, funcionárias e executivas serão a nova força emergente do mundo, ao lado de China e Índia.
Ela veio ao Brasil no mês passado lançar um programa que busca explorar o potencial para negócios de atletas após a aposentadoria.
Brooke, vice-presidente global de políticas públicas da Ernst & Young (consultoria americana que apoia a Olimpíada do Rio), está constantemente engajada em programas para o desenvolvimento das mulheres.
A executiva ocupa a 99ª posição na lista anual de poderosas da revista "Forbes". Aos 53 anos, a americana acredita que as empresas devem voltar a atenção ao público feminino, cuja renda global vai saltar de US$ 13 trilhões para US$ 18 trilhões nos próximos cinco anos, estima.
Ela é responsável pela política pública da consultoria em 140 países, tendo que negociar frequentemente com autoridades, empresários e políticos. Leia a seguir os principais pontos da entrevista concedida à Folha.
Folha - Como se tornou uma das mulheres mais poderosas do mundo?
Beth Brooke - Esse reconhecimento veio como resultado do meu trabalho e do que defendo na Ernst Young há anos. Uso a minha plataforma para mobilizar pessoas em 140 países, para fazer um impacto positivo no mundo. Mas não acredito que chegaria a esse posto sozinha.
É preciso cultivar uma rede de relacionamentos, ter pessoas te estimulando. A alguém fica poderoso ao reconhecer que não se faz nada sozinho.
As mulheres têm ganhado importância nos negócios?
Sim, e isso irá crescer ainda mais. Há estimativas de que as mulheres terão um poder econômico tão grande nos próximos dez anos que já estão sendo chamadas por estudiosos e especialistas de o "terceiro bilhão". Significa que 1 bilhão de mulheres pelo mundo ingressarão na economia global, junto com outros 2 bilhões vindas da Índia e da China.
As empresas estão preparadas para receber esse público?
Não. Costumo perguntar para os presidentes das empresas: você estão investindo na Índia, na China? A resposta é sempre sim. Então pergunto: por que não estariam investindo nas mulheres? Eles nunca estão.
O que falta ser feito?
As empresas devem focar não só na contratação de mulheres, mas também no desenvolvimento delas. Os consumidores de seus produtos certamente não são só homens. Não é possível conduzir um negócio com líderes apenas do sexo masculino.
O empreendedorismo é um desvio desse obstáculo?
Sim, o número de mulheres que são empresárias cresce com força. Elas cansaram do ambiente corporativo, que não é favorável a elas.
Como deve ser o ambiente de trabalho?
Flexível, deve permitir que os funcionários possam equilibrar a vida pessoal e profissional. Para isso, é preciso focar no resultado.
A funcionária deve ter a liberdade de dizer que precisa levar o filho ao médico na sexta-feira. Pode compensar como for melhor para ela. No sábado, por exemplo.
Quais são os problemas que vê nas mulheres empreendedoras e trabalhadoras?
São muito focadas nos detalhes, mas não têm um olhar mais distanciado, com estratégia. Ficam emperradas naquilo, não vão além.
E o que acha da presidente do Brasil, também na lista de mulheres poderosas?
É muito importante ter uma mulher como presidente. Dessa forma, qualquer menina pequena pode sonhar em ser presidente, uma vez que já viu isso acontecer.
Veículo: Folha de S.Paulo