Preços sob vigilância

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O Banco Central deixou claro ontem que a atual política monetária tem como alvo principal atacar a inflação em 2014, cuja projeção foi elevada, e que permanecerá "especialmente vigilante" para evitar que persista a pressão sobre os preços. O sinal foi dado na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e, na avaliação de especialistas, também indica que a velocidade do ciclo de alta da taxa básica de juro deve ser comedida.
 
"O julgamento de todos os membros do Copom é convergente no que se refere à necessidade de uma ação de política monetária destinada a neutralizar riscos que se apresentam no cenário prospectivo para a inflação, notadamente para o próximo ano", mostrou a ata.
 
Na semana passada, o comitê deu início a mais um ciclo de aperto monetário, ao elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, a 7,5% ao ano, mas deixou claro que conduzirá o processo com "cautela", termo repetido na ata de ontem. A decisão de elevar o juro, no entanto, não foi unânime: dois dos oito membros – os diretores Aldo Mendes (Política Monetária) e Luiz Awazu (Assuntos Internacionais e Regulação do Sistema Financeiro) – optaram por manter a taxa básica na mínima histórica de 7,25%. Entendem ambos que está havendo uma reavaliação do crescimento global e que, dependendo da sua intensidade e duração, isso pode auxiliar nos preços domésticos.
 
A posição geral do BC, segundo a ata do Copom, reforçou a percepção do mercado e de economistas de que as próximas altas da Selic virão de forma comedida. "A ata confirma que a referência (do BC) é a inflação de 2014. As expectativas para 2013 estão dadas, mas permanece uma situação incômoda para 2014", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, que prevê mais duas altas da Selic de 0,25 ponto, a 8%.
 
No mercado futuro de juros, investidores corroboravam nesta manhã as apostas de mais três altas na taxa de 0,25 ponto percentual, com os contratos futuros de juros sendo negociados praticamente estáveis.
 
OLHO EM 2014
 
Pela ata, o BC piorou seu cenário de inflação para 2014, afirmando que ela se encontra acima do centro da meta oficial, de 4,5% pelo IPCA, levando em conta o cenário de referência. Já para 2013, a autoridade monetária manteve sua estimativa de inflação, também acima do centro da meta. O documento traz apenas projeções qualitativas sobre o tema. "O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação como o observado nos últimos 12 meses persistam no horizonte relevante para a política monetária".
 
A inflação tem permanecido em patamares elevados e chegou a estourar o teto da meta do governo, de 6,5% no ano. Em março, o IPCA registrou alta 6,59% em 12 meses e, em abril, o IPCA-15 – sua prévia – mostrou avanço de 0,51%, acumulando 6,51% em 12 meses. O preço dos alimentos têm sido um dos principais vilões da inflação, junto com serviços, levando o governo a adotar medidas fiscais para amenizar a pressão. A última delas envolveu o setor de etanol.
 
A visão de inflação pressionada contempla ainda a expectativa de recuperação da atividade econômica, que já está em curso na avaliação do BC. Para o colegiado do banco, "o cenário central contempla ritmo de atividade doméstica mais intenso neste e no próximo ano", acrescentando que a pequena margem de ociosidade no mercado de trabalho pode ser um risco. Na ata anterior, de março, o Copom havia ponderado que o ritmo de atividade econômica doméstica estava "menos intensa do que se antecipava".
 
Sobre política fiscal, o Copom ressaltou que seu cenário de inflação contempla a meta cheia de superávit primário para este ano, de R$ 155,9 bilhões  "não obstante iniciativas recentes apontarem o balanço do setor público em posição expansionista". No início da semana passada, o governo flexibilizou a política fiscal, buscando ter mais possibilidade de abatimento das metas de superávit primário neste e no próximo ano.
 
"A conclusão mais importante é que o ciclo vai ser dado pelo crescimento, e não pela inflação. O BC está confiante nessa retomada econômica no longo prazo", afirmou o economista-chefe da corretora Votorantim, Roberto Padovani, para quem a Selic será elevada em mais quatro vezes, chegando a 8,5% ao ano.

 




Veículo: Diário do Comércio - SP


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