Para Carlos Hamilton Araújo, recuperação global pode elevar consumo e pressionar a inflação
Diretor de Política Econômica, que votou pela alta da Selic neste mês, deu declarações em conferência em SP
Em contraste com a retórica predominante no governo Dilma Rousseff, um dirigente do Banco Central sugeriu abertamente a possibilidade de acelerar a alta de juros para combater a inflação.
"Cresce em mim a convicção de que o Copom [Comitê de Política Monetária] poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária", disse Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica.
Araújo discursava ontem pela manhã em conferência promovida pelo banco Itaú, em São Paulo, pouco depois da divulgação da ata da reunião do Copom da semana passada, que pregava "cautela" na política de juros.
O diretor foi um dos 6 que votaram pela alta da Selic na reunião deste mês; outros 2 foram pela manutenção.
Com o argumento de que o cenário internacional pode contribuir para o desaquecimento da economia brasileira, o BC optou por elevar sua taxa de 7,25% para 7,5% ao ano, enquanto parte do mercado esperava um aumento de 0,5 ponto percentual.
O diretor do BC, no entanto, considerou mais provável que a conjuntura global melhore e, com isso, a tendência seja de "expansão da demanda agregada doméstica [consumo, investimento e gastos do governo]".
Araújo expôs de forma explícita teses tratadas a meias palavras pelo BC e que se chocam com as defendidas pelo Ministério da Fazenda.
Listou, entre as principais causas da escalada da inflação, a "política fiscal e parafiscal expansionista" (ou seja, o aumento dos gastos públicos de todo tipo) e a "política monetária expansionista" (juros mais baixos).
Boletim divulgado anteontem pela Fazenda dizia que os descumprimentos da meta de inflação "refletem, primordialmente, choques de oferta que afetam a economia como, por exemplo, intempéries climáticas".
Araújo considerou ainda que a expansão da economia, projetada em 3,1% neste ano, já está próxima do potencial. "O ritmo sustentável de crescimento para o Brasil de hoje não se distancia muito dessa estimativa."
Segundo a Folha apurou, o BC não viu contradição, apenas uma diferença de tom, entre as afirmações do diretor e a ata do Copom.
Em reserva, analistas de mercado interpretaram a sequência de mensagens como um sinal de que Araújo não é voz isolada no comitê, e os juros poderão subir em 0,5 ponto percentual em maio --a expectativa frustrada na semana passada.
Veículo: Folha de S.Paulo