Juros vão subir mais

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O Banco Central vai continuar a aumentar os juros em maio. É o que sinalizaram a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, e, sobretudo, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, durante discurso feito em São Paulo, em que tratou do combate à inflação. “Gostaria de registrar que cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária (a taxa Selic)”, afirmou Hamilton.

A ênfase usada pelo diretor causou reação imediata no mercado futuro de juros, em que cresceram as apostas de que a taxa básica (Selic), que foi elevada de 7,25% para 7,50% ao ano na semana passada, vai continuar aumentando. No jargão dos economistas, Hamilton trocou a plumagem de pombo por uma de falcão, passando a ser classificado como hawkish, termo em inglês que adjetiva as autoridades monetárias mais severas com a carestia. O discurso ficou vários tons acima da linguagem cautelosa utilizada na ata, coerente, segundo analistas, com decisão moderada tomada pela diretoria do BC na semana passada. No documento, o Banco Central deixou claro que a política monetária tem como alvo controlar a inflação em 2014.

Para alguns economistas, a fala do diretor gerou ruído e alimentou dúvidas, quando comparada ao teor da ata. Enquanto o documento sugere uma elevação de 0,25 ponto percentual no próximo mês, o pronunciamento de Carlos Hamilton abre portas para um aperto maior, de 0,50 ponto. “Não surgiu nada nas últimas semanas que justifique uma intensificação do aperto monetário, pelo contrário”, argumentou Carlos Thadeu de Freitas Filho, da gestora de recursos Franklin Templeton. “A ata foi coerente com a decisão do Copom. A surpresa foi o diretor do BC”, disse. “O BC se tornou expert em dar sinais contraditórios”, criticou Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.

Chamou atenção também, na fala do diretor, o cálculo de potencial de crescimento do Brasil. Segundo ele, em função do nível baixo de investimentos, o país pode avançar apenas 3,1% sem criar pressões inflacionárias. Ele projetou ainda que o país teve expansão de 1% no primeiro trimestre, o equivalente a 4% em termos anualizados.

O diretor listou também os motivos para a inflação ter estourado, em março, o teto da meta, de 6,5%. Apenas um deles não pode ser atribuído ao governo: os choque de preços domésticos e externos. Os demais decorreram de decisões da equipe econômica, como a desvalorização do real, o aumento do salário mínimo acima da produtividade, a política fiscal expansionista, e a redução de juros promovida pelo próprio BC.



Veículo: Diário de Pernambuco


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