O aposentado Valterio Almeida de Jesus, morador de Santo André, como consumidor antigo, conhece bem todos os meios de pagamentos. Por boa parte de sua vida utilizou os cheques para realizar as compras. A folha era uma forma de não carregar muito dinheiro na carteira. Mas também servia como maneira de aliviar o orçamento por alguns dias, quando soltava um pré-datado, nada mais do que uma forma de crédito que as lojas liberavam aos clientes.
O problema é que esse financiamento tornou-se um problema para vários lojistas. Até mesmo os clientes mais fiéis que acabavam se endividando demais passavam cheques sem fundos. Por essa insegurança para os comerciantes, somada ao desenvolvimento acelerado da tecnologia de cartão, os cheques começaram a perder espaço na preferência dos brasileiros, mais acentuadamente no fim dos anos 1990, destaca o economista da Serasa Experian Carlos Henrique de Almeida.
"Não sei exatamente, mas de dez anos para cá não aceito mais cheques. Recebemos muitos sem fundos e isso prejudicou o negócio", disse Zilda Ananias Oliveira, proprietária de uma banca de jornal andreense. Ela avalia que, atualmente, a barreira que impõe para o meio de pagamento não reflete em menor volume de vendas.
"Sem dúvida há um movimento de queda na utilização dos cheques. Se a gente pegar as folhas utilizadas, temos uma queda de quase metade nos últimos cinco anos", comentou o economista da Boa Vista Serviços Flávio Calife.
Na avaliação do professor de Economia da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Radamés Barone, a vida dos cheques terá continuidade apenas pela demanda dos empresários. "As firmas vão continuar mantendo, pois elas pagam os fornecedores com eles. Mas o consumidor cada vez mais vai abandonando. É uma substituição pelo cartão."
As últimas pesquisas sobre movimentação desse meio de pagamento deixam claro o cenário que está em formação. Segundo a Boa Vista, que apura informações sobre esse segmento, o volume utilizado acumulado neste ano até abril diminuiu 9% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos primeiros quatro meses de 2012, foram movimentados 313.077.095 cheques. Neste ano, o montante caiu para 285.812.513.
Por outro lado, a utilização de cartões, tanto de débito quanto de crédito, sobe a cada ano. Segundo o último registro da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), em 2011 o País tinha 687 milhões de plásticos. No ano passado, o número engordou para 746 milhões.
Considerando o primeiro quadrimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, o número de transações com os cartões elevou 12%. Em 2012, foram 2.470.678 operações, contra 2.768.511 neste ano, conforme a Abecs.
INTERIOR
A queda na movimentação de cheques é puxada pelos grandes centros urbanos pelo alto índice de bancarização. Porém, lembra o economista da Serasa Experiam Carlos Henrique de Almeida, os municípios afastados das metrópoles ainda mantêm a cultura do cheque. É justamente nessas regiões que os pequenos empresários devem se prevenir. O economista Flávio Calife, da Boa Vista Serviços, destacou que mesmo com a redução, a utilização do meio é grande. "Foram 75.459.759 movimentados em abril."
Pela falta de planejamento financeiro de alguns negócios, o cheque sem fundo pode se tornar uma bomba para os resultados. "E se naquele dia você atende um consumidor que só tem cheque para pagar, pelo porte da empresa, você não pode deixar de vender", diz Almeida. Portanto, a solução é consultar nos bancos de cadastros de consumidores se vale a pena aceitar o meio de pagamento, e não apenas pedir o RG para comprovar que a folha é do cliente. O Banco Central lista 37 motivos para a devolução de um cheque, mas os bancos informarão os dados do emitente só em casos de insuficiência de fundos; erros que ensejam registro de ocorrência no CCF (Cadastro de Cheques Sem Fundos); sustação ou revogação devidamente confirmada, não motivada por furto, roubo ou extravio; divergência, insuficiência ou ausência de assinatura ou erro de preenchimento.
Veículo: Diário do Grande ABC