Nos próximos doze meses, 88% acham que suas finanças pessoais vão melhorar.
Washington - A despeito da preocupação com a inflação, o otimismo é a marca registrada do povo brasileiro quando o assunto é economia, revela pesquisa do Pew Research Center, realizada entre março e maio com mais de 37,5 mil pessoas em 39 países. Os brasileiros são os mais confiantes, de longe, quanto ao futuro de suas finanças pessoais (88% acham que vai melhorar nos próximos 12 meses), vindo muito à frente dos nigerianos (76%). Também têm a melhor avaliação na América Latina sobre a situação corrente da economia do país (59% acham boa) e a terceira melhor no mundo (atrás apenas das populações da China e da Malásia). Despontam ainda em segundo lugar como os que mais apostam na melhora da atividade econômica daqui a um ano (79%).
Apesar de considerar o tema um grande problema (75% dos entrevistados), o Brasil (25% da população) tem com a Bolívia (26%) a melhor percepção global sobre a queda da desigualdade entre topo e base da pirâmide nos últimos cinco anos. Isso ajuda a explicar o fato de os brasileiros confiarem que a próxima geração terá condições econômicas melhores do que a atual: 79% acreditam que os filhos serão mais bem-sucedidos economicamente do que os pais, indicador que só é superado pelo da China (82%).
"Brasil e China surgiram como os países onde há a melhor percepção da opinião pública sobre a economia e as condições pessoais. Isso reflete o desempenho econômico de ambos nos últimos anos, onde houve abertura, aumento do comércio, crescimento robusto e mais emprego", avaliou Richard Wike, diretor associado do Projeto de Atitudes Globais do Pew.
Mesmo assim, o Brasil está dividido quanto aos rumos do país (44% satisfeitos, 55% insatisfeitos). Possivelmente, a explicação seja a manutenção de altos níveis de desigualdade e de privação. Segundo o estudo, 24% dos entrevistados declararam dificuldade para arcar com o sustento em relação à compra de comida, 30%, de vestuário e 31%, de assistência à saúde nos últimos 12 meses.
Também a inflação gera preocupação. A América Latina tem o indicador mais elevado de temor com a escalada dos preços, 84% na média, e este é o sentimento de 83% dos brasileiros.
O levantamento do Pew, um dos mais respeitados institutos de pesquisa dos Estados Unidos, revela um mundo dividido e influenciado pela experiência econômica da última década, pela qual os países emergentes alcançaram resultados muito mais positivos, tanto em termos de geração de riquezas quanto de inclusão social. A crise que estourou em setembro de 2008 é claramente um divisor de águas por acentuar o desequilíbrio de desempenho.
Não por menos, os emergentes têm os melhores indicadores de percepção, seguidos das nações em desenvolvimento. Já entre os ricos, à exceção da Alemanha e dos países fora do epicentro de turbulência, como Canadá e Austrália, a desolação é total.
"A opinião pública reflete a situação crítica pela qual passam as economias avançadas. As populações têm uma visão muito pessimista tanto sobre a situação atual quanto com o futuro. Emprego é, de longe, o maior problema e o crescimento da desigualdade surgiu como uma das fontes mais fortes de preocupação. A diferença entre ricos e pobres, aliás, apareceu como um dos poucos pontos de alinhamento entre as economias avançadas, emergentes e em desenvolvimento", explicou Wike.
Na média dos países avançados, 80% dizem que o crescimento da desigualdade é um grande problema e 74% acreditam que o sistema econômico de seus países favorece os mais abastados em detrimento de quem realmente precisa. Mais da metade dos pesquisados em 31 das 39 nações avaliou que a distância entre ricos e pobres cresceu nos últimos cinco anos.
Quase 70% dos entrevistados nas nações avançadas citam o emprego como o mais perturbador dos problemas — percentual que chega a 99% na Grécia, 97% na Itália e 94% na Espanha. natural que esses sejam também os países onde a insatisfação com a economia seja maior na amostra: este é o sentimento de 97% da população da Grécia, 96% da Itália e 91% da Espanha.
O andamento da economia é bom para apenas 1% dos gregos, 3% dos italianos, 4% dos espanhóis, 15% dos britânicos, 27% dos japoneses e 33% dos norte-americanos. Gregos e franceses são os povos de países avançados mais pessimistas: 64% dos gregos dizem que a economia vai piorar e 54% que suas finanças vão se deteriorar, taxas que são de 61% e 43%, respectivamente, para os franceses.
Veículo: Diário do Comércio - MG