Sul do País aposta na diversificação da lavoura

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No Sul do Brasil os pesquisadores estão estudando não só a adaptação a uma eventual mudança climática - tanto para o frio quanto para o calor - das culturas já plantadas na região, como também o desenvolvimento de lavouras que hoje não se adequam aos padrões locais. Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que, com o aquecimento de até 2ºC, os estados sulistas poderiam plantar café - hoje só adaptável até o Paraná - e cana-de-açúcar.

 

"O aquecimento global vai ter um impacto no futuro. É preciso o melhoramento genético para a adaptação e também o desenvolvimento de novas espécies para o clima tropical", diz Hugo José Braga, coordenador do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometerologia (Ciram), referindo-se ao fato de Santa Catarina ter hoje, predominantemente o clima subtropical e temperado. Ele cita como possíveis mudanças o plantio de café e de banana. Segundo ele, no caso das espécies frutíferas são 10 anos para o início da produção e outros 20 a 30 anos para o lançamento das cultivares.

 

A pesquisadora Bernardete Radin, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), diz que um "eventual" aquecimento global poderá favorecer o Rio Grande do Sul. "Algumas culturas que hoje a gente não cultiva, com o passar do tempo vamos passar a produzir", afirma. Segundo ela, parte da pesquisa atual no estado já é nesta tendência. Uma das linhas, de acordo com a pesquisadora, é de culturas agroenergéticas - cana-de-açúcar, mamona e canola. "O zoneamento agrometerológico terá de ser refeito. No estado, hoje, por enquanto, o cultivo da cana-de-açúcar é restrito por causa do frio. Mas poderá ser em quase todo o estado", diz.

 

Outro aspecto "positivo" apontado por ela é o favorecimento de culturas que demandam mais calor - como soja e milho e hortaliças. Na avaliação de Bernardete, o estado poderá plantar dois ciclos de tomate, o que hoje não ocorre por causa do frio.

 

A pesquisa desenvolvida na região também busca preservar as atuais culturas plantadas. É o caso, por exemplo, do arroz e da soja. "Não estamos discutindo para onde a soja pode ir com o aquecimento global, mas como preservar onde hoje ela já está", afirma José Renato Farias, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja. As pesquisas atuais do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) buscam a adaptação do produto ao frio. "A mudança climática é ocasional. Existem ondas de calor e frio. Se realmente esquentar, não atrapalhará esta lavoura", diz Valmir Gaedke Menezes - diretor-técnico do Irga. As variedades já adaptadas têm potencial produtivo de 12 toneladas por hectare e poderiam ser cultivadas em qualquer região do estado, não apenas na Metade Sul, como ocorre atualmente.

 

Veículo: Gazeta Mercantil  

 


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